Reflexões Assarapantadas
O cinzento voltou
Como se nos quisesse recordar
Que o dourado do Sol na paisagem
É uma bênção servida com parcimónia
Aborrecemos os olhos
Na ausência da luz do Astro-Rei
A paisagem já não nos prende
Numa suspensão de euforia
Voltámos ao mundo dos objectos
Uma cadeira, um livro, uma mesa
O pó que nos submerge de mansinho
E não vemos
Os interruptores que pressionamos
Enquanto deslizamos pelas divisões complexas
Das nossas vidas
Como se também accionássemos a nossa atenção
A nossa concentração
A nossa capacidade de realizar isto e aquilo
Que temos de fazer
Ou que nos convenceram a dar importância
Quando dormimos
E os nossos olhos estão fechados
É como se estivéssemos em modo off - desligados
E quando os abrimos, passamos a estar em on - ligados
Quando morremos
Ficamos de olhos escancarados e fixos
O que prova, que não estamos a descansar
Nem a funcionar
Estamos perante o colapso do sistema
Já não é possível ligar, nem desligar
Ana Wiesenberger
07-03-2013
Imagem - Testard Robinet