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querotrazerapoesiaparaarua

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Feliz Dia da Liberdade

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Aos presentes e aos ausentes

Aos que não desistem de pensar

E aos que hão-de começar a olhar em redor

E a reflectir

 

Aos que se recusam a vestir os dias de paciência

Aos que só têm medo de perder o medo

 

Aos que Abril viveram

Aos que Abril sonharam

Aos que Abril não esquecem

Aos que ainda querem no caos e na desesperança

Encontrar o caminho

 

Aos que não obedecem à modorra induzida

E não se entregam à alienação do ser

Aos que não desistem de acreditar

Que Portugal ainda se pode cumprir

Eu digo bem alto e de peito aberto:

Feliz dia da Liberdade!

 

Ana Wiesenberger

Há Pessoas Que Precisam de Ver O Natal


Christmas - living-room

Há pessoas que precisam de ver o Natal
Nas árvores iluminadas das ruas
Nas decorações das montras, das casas
Das árvores de Natal na sala
E nos símbolos pendurados nas portas
 
É arrepiante pensar
Que dependem de todos os sinais
Exteriores
Para saberem que é Natal
Atafulham o lar com embrulhos
E excessos
De encomendas múltiplas
Bolos e peru
Numa azáfama tresloucada
De quem salva vidas
Para desabarem estoiradas
À mesa da consoada
 
E eu fico aturdida
E com vontade
De lhes gritar aos ouvidos
Incómoda
Que cegueira atroz
Olhai mais fundo
O Natal está ou não está
Dentro de nós
 
Ana Wiesenberger

Às vezes, não sei se sinto

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Às vezes, não sei se sinto

Ou se é apenas o querer sentir

Que me traz o Natal

Em forma de luz profunda

Ou de abraço apertado

Dos que desejamos perto de nós

 

Às vezes, é tanta a dor da ausência

Que nos transmuda em nós pontiagudos

E nos deixa prostrados de medo

Do que não logramos compreender

 

Às vezes, eu queria ser uma grinalda colorida

Uma Árvore de Natal construída passo a passo

Na lentidão com que o amor acontece

 

Às vezes, só consigo ser a cadeira vazia à mesa

Da consoada

O eco dos que já não se vêem junto a nós

E estão ali eternamente presos nos risos e nas palavras

Que partilhamos

Nas vozes de todos os Natais que vivemos

 

Às vezes, eu fico trémula como uma lâmpada com defeito

Numa cadeia de luzes em redor de um presépio perfeito

E só assumo a minha realidade

Como um personagem vagamente concebido

Para ser gente num conto alusivo à Quadra Natalícia

 

Ana Wiesenberger

Imagem - Van Gogh

Verão

 
Pode ser uma imagem de 1 pessoa
 
 
 
Verão
Renovação do querer em mim
Nos meus braços, outros braços
No meu peito, a imensidão do desejo
De estar noutro lado
De ouvir outra música
De abarcar em mim, outro Eu
 
Lembranças do passado
Chegam até mim
Com ecos tristes
Desilusão da minha vontade fútil
Fermentada no sabor dos dias quentes
 
Não quero, que assim seja
Não quero repetir-me
Consumir-me em rumos vãos
Leviandades imaturas
 
Adolescência por terminar
No caminho para a idade da razão
Por cumprir
Embaraço comovente feito de delírio
De tanto sonhar
De tanto querer estender as mãos
Até às estrelas do céu
 
Ana Wiesenberger
 
Imagem - Edward Hopper
 

Leio Desalmadamente

Van Gogh - livros

Leio desalmadamente

Como se os livros fossem tábuas

As palavras, pregos

E só o verbo me alimentasse

A existência

 

Saboreio as ideias dos autores

Vou ao encontro das imagens

Da biografia por detrás de cada obra

E alegro-me como uma criança

Quando são vivos e acessíveis

À comunicação

 

Há os desconhecidos

Os que já conheço um pouco

Dois ou três volumes de companhia

Há os que tememos ler

Porque entram dentro de nós

E fazem estragos irreparáveis

Há os que queremos ler e não conseguimos

Porque não os encontramos

Ou porque nos encontramos

Quando para eles

Não estávamos preparados

 

E por isso, junto à minha cama

E debaixo dela

Armazeno uma profusão de estilos

E discursos

Para não ter de me erguer do leito

Para encetar o diálogo necessário

Ao tempo antes de adormecer

Com um parceiro adequado

 

Ana Wiesenberger

02-06-2015

 

Agora que já não estás aqui

Pai

Agora que já não estás aqui

Que tento coser os teus contornos

Nas sombras de outras velas

Que se passeiam à luz consciente da noite

Que nos traz a todos a saudade

Do que não soubemos reter

 

Passam as vozes e os momentos de outrora

Numa passerelle de vida inacabada

Ressequidos num passado de tronco morto

 

Passam as recordações do que queríamos fazer

E não conseguimos

Rolam as lágrimas pelas nossas faces desprevenidas

A esvair o calor dos dias

 

Ah, se eu pudesse

Se eu fosse capaz de franquear novamente

As portas da infância

Se eu te pudesse dizer

No meu modo desajeitado, mas exigente

Fica connosco, mais um pouco, Pai!

Temos tanto para conversar

 

Ana Wiesenberger

A Dor É Uma Aprendizagem

Gustave Caillebotte

A dor é uma aprendizagem

Uma vereda a percorrer

Apesar do medo

 

Não é possível viver

Sem a conhecer

Uns mais; outros menos

Uns com mais coragem,

Resiliência

Outros quase envergonhados

A tentarem fugir

Como se ainda fossem crianças

E quisessem tapar a cabeça com o cobertor

Para se esconderem do monstro

Que habita a escuridão do quarto

 

Uns e outros

Mendigos errantes

Em busca da luz opaca:

Esquecimento, entorpecimento dos sentidos

Ânimo falso para prosseguir o caminho

 

Ana Wiesenberger

28-02-2021

 

Que Halloween Estranho Este

Que Halloween estranho este

Não há risos mascarados pelas ruas

Nem ninguém toca à campainha

Para pedir doces

Ou pregar partidas

 

Gostemos ou não

Destas realidades culturais assimiladas

É triste ver um espaço vazio

No lugar que tão alegremente

Poderiam ter preenchido

 

Este é o Halloween na Alemanha de 2020

Como sempre fui ao cemitério

Deixar flores na campa dos meus sogros

O meu pai foi cremado em 2009

A minha mãe está felizmente viva em Portugal

E os meus amigos e filhos de quatro patas ausentes

Estremecem no meu peito, embalados pela saudade

 

Esta noite não é de terror

Nem de medo

É de reconciliação

Entre a luz e as trevas

O que já foi

E o que ainda é

Sejamos unos

No espelho oblíquo

Da energia eterna

 

Ana Wiesenberger

31-10-2020

 

 

 

 

 

Quarentena

Salvador Dali

Quarentena

 

À força de se esperar

Não se espera

Os dias passam por nós

Numa dormência estúpida

Intercalada por momentos de inquietação

 

Não fui a única a ceder ao impulso de arrumar

Inventariar o útil e o dispensável

A julgar pelos sacos recorrentes

Junto aos contentores do lixo

Em tempos de caos

O medo leva-nos a procurar a ordem

A ilusão de que podemos moldar a realidade

Com as nossas mãos humanas

 

Nas ruas as pessoas deslizam

Como ratos inseguros num território desconhecido

E se param a uma distância confortável

Para cumprimentar amigos e vizinhos

Fazem-no com os olhos errantes

Ansiosos por comunicar

Arredios pelo hábito construído da desconfiança

 

Os que se trancam em casa

Barricados em obediência e pânico

Vomitam em expressões comezinhas e lugares-comuns

A inveja dos audazes que vêem por detrás da vidraça

Secretamente desejosos de os ver cair doentes

Por não contarem os passos e os minutos

Que se atrevem a viver fora de portas

Em tempos de pandemia

 

Quando o vírus se afastar

Da contabilidade diária no ecrã

Teremos de reaprender a proximidade

Deixar de sentir as mãos e os braços dos outros

Como pás a abrir-nos o leito de morte

 

Ana Wiesenberger

24-04-2020

Imagem – Salvador Dali

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