Afastei-me do Mundo Real
Afastei-me do mundo real
Devagarinho, a medo
Como quem quer ver outro horizonte
Mas não se atreve a procurá-lo
De passos lassos e leves
Submergi na dimensão eléctrica do metal
O frio da superfície assustou-me
Mas depressa me habituei
Para quê desbaratar as minhas energias
Pela casa
Se posso usar apenas a mão direita
Para clicar, clicar
E esquecer na volúpia da multiplicidade de imagens
Que perdi a margem
Para quê desejar
O tacto, o odor
Além da macieza do vosso pêlo
De amor profundo
E depois
Tenho mais, muito mais, ainda
Nas páginas que pululam na minha cabeça
Que se agigantam nas estantes
A cobrir os muros do meu habitat
A dada altura, eram só paredes
Mas arrependi-me
O único hóspede que espero com ardor
É o sol
E mesmo esse,
Não se senta comigo, em todas as horas
Por isso, imolei os meus dias
E as minhas madrugadas
Ao contacto doce do Rato entre os dedos
Numa beatitude
De quem sabe, que não espera a morte
Porque já a alcançou.
Ana Wiesenberger in Dias Incompletos