Nas Minhas Gavetas Desordenadas
Nas minhas gavetas desordenadas
Perdura um cheiro a mofo húmido
Dos sonhos guardados há muito
E as traças alimentam-se da poeira
Que era mágica
Alfazema da vontade esquecida
Alecrim das promessas quebradas
Madressilva das ternuras amarelecidas
Rosmaninho das tranças brilhantes
De outrora
No meu roupeiro imenso
Pululam lado a lado
Numa intimidade de memória
Os meus anos de abelha, de borboleta
De pássaro inquieto a picar
O que eu pensava ser o azul do céu
E os meus momentos felinos
Guiados pela febre de outros cheiros
Numa demanda ao luar dos encantos
Numa urgência de me eternizar
Noutros genes geradores de outros ciclos
Outras verdades, outras direcções
A porta aparentemente aberta do meu quarto
Esconde trancas indecifráveis
Códigos armadilhados
Pensamentos amotinados, cruéis
Desejosos de cercar, eliminar
O que não podem conter
Numa rejeição construída no tempo improvável
Duma meditação pagã
Por isso, o meu quarto
É toca, é antro, é covil
É mortalha cálida
Para as minhas horas
Inacabadas
Ana Wiesenberger
17-06-2013
Imagem tirada da internet não identificada.