SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã
E o dia estivesse lindo
Se eu morresse amanhã
Sem ter ido à praia
Se eu morresse amanhã
Sem ter libertado os meus braços, dos abraços
Que não te prometi,
Mas tinha nos meus braços,
Só para ti
Se eu morresse amanhã,
Sem ver a Estrela Polar, o poente em África,
O sol da meia-noite em latitudes eslavas
Se eu morresse amanhã
E ainda guardasse no meu regaço
As centenas de beijos, que jurei distribuir,
Os milhões de olhos-nos-olhos, que quis oferecer
Se eu morresse amanhã
E o sol não viesse, no dia seguinte
Se eu morresse amanhã
E a noite celeste, teatral, já não me cingisse,
Eu queria estar no topo do meu mundo,
Acostada, empoleirada, amurada nas ameias
Do desejo do tempo,
Como se não houvesse, amanhã
Ana Wiesenberger in IDADES
Imagem - René Magritte