Pelas Janelas dos Meus Escombros
Pelas janelas dos meus escombros
Passa a vida em episódios soltos
Numa rotação lenta de saudade
E distância
Não sei, se oiço, mas ainda sinto
E parto com eles na amargura dos desfiles
Das lutas que se querem feras
E transmudam-se em cordeiros
Pela imbecilidade das vontades
Que não construíram significados
Ao longo do tempo
É triste viver aqui
É mais triste ainda escutar o povo
E a negligência, a abstinência
Com que vivem os dias
Numa realidade pretensamente apartada
Das emboscadas que lhes criam dia após dia
E dá-me vontade de ser vento
Que os açoite até à consciência
E dá-me vontade de ser chuva
Que os acorde até se levantarem
E fico trémula com as minhas armas débeis
Feitas de letras e símbolos
A pensar-me luz e a ser sombra
A querer ser bandeira, abraço
Mão aberta, mão estendida, mão erguida
E a ser noite de dor e desilusão
Vela de esperança bruxuleante
Num horizonte negro
Em que ninguém já aposta
Liberdade
Ana Wiesenberger
27-06-2013
Imagem - George Grosz