1º de Maio
1º de Maio
Como pode este dia
De luta e dor
De sangue derramado
De angústia pelo que falta cumprir
Ser apenas colhido
Como um pretexto para convívio
Entre amigos
Com a bestialidade da ausência de consciência
Servida em copos e pratos
Grades para o que se passa em redor
Sei que as imagens da minha infância
Já não se repetem
Não há multidões a dispersarem de S. Bento
Perseguidas pelos cassetetes da polícia
E os cães instrumentalizados para induzir o terror
Mas o medo voltou com outro rosto
O povo teme a espiral de perda crescente
Destes últimos anos
Os postos de trabalho, os direitos adquiridos
Agora espezinhados, anulados, estropiados
Pela hegemonia das altas finanças
Pela especulação bárbara que só serve as minorias
Engordadas com o nosso suor, o nosso esforço
As nossas vidas malbaratadas
Presas sem esperança nas malhas da corrupção firme
Que não perece sob o punho da justiça
As mulheres e as crianças continuam a ser os mais fracos
Salários mutilados pelo género
Violência consumada entre portas
Porque os seus homens covardes trazem a ira e a frustração
Para casa, em vez de lhes dar voz na praça pública
As crianças mal alimentadas
Sofrem no quotidiano o corte nos salários, o desemprego
E as pensões irrisórias dos avós
Hipotecam precocemente o futuro
Depauperadas pelo mal-estar na família, tristes, revoltadas
Incapazes de abarcar a aventura do aprender
Por isso, neste 1º de Maio
Que muitos festejam além-fronteiras
Exilados pela necessidade de sobreviver
Talvez fosse apropriado, reflectirmos
Será este o Portugal que desejamos ter?
Ana Wiesenberger
01-05-2015
Imagem - Diego Rivera