Gostava de acreditar na mudança Na força das vozes No eco das palavras Na determinação das massas Em dar corpo A um novo rumo
E mesmo assim, vacilo Em intervalos de entusiasmo E receio do mesmo
Tenho medo, que manobrem o meu povo Com Mesuras de ilusionista A fazer crer aos cidadãos revoltados Que o pão lhes será restituído Na forma de números cifrados Previamente preparados para apresentar Depois da ira da nação
Será, que continuamos a ser Marionetas bem articuladas Nas mãos dos todo-poderosos de argúcia Que se entretêm a aplaudir os nossos passinhos Por eles medidos e calculados
Será, que nos vão vencer de novo Ao fazer-nos pensar que algo foi conquistado Para desenovelarem, tranquilos Novos roubos camuflados Garras frescas nas nossas gargantas crédulas
Não. Não pode ser Eu quero crer no rosto de Portugal Triste Exausto de escravidão Mas de olhos abertos, lúcidos Demasiado despertos Para se deixarem enganar mais uma vez
17-09-2012 Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor)
Sinto o meu povo a borbulhar de raiva A voz sangrada já não teme ser sangrenta As camisas rotas que o desespero amotinou Não se vêem nas vestes Só na voz e nos gestos crispados
O meu povo minado de roubo e corrupção Ameaça barreiras Ergue as bandeiras De uma dignidade ultrajada Num quotidiano de medo e repressão
Foram-se os postos de trabalho E a esperança de serem recuperados Foram-se os nossos filhos além-fronteiras Por verem negadas as perspectivas de vida E o reconhecimento das qualificações
Meu povo triste, de gerações maceradas Ainda na memória do hoje Que se quis acreditar democrático
Meu povo Tocha de coragem em tempo de fome e de amargura Ultrapassa a sombra da resignação E Reivindica o teu país
Meu povo Povo de Portugal Queimemos os elos da hipocrisia malfazeja Rasguemos com os nossos dentes cansados As mordaças dissimuladas deste poder Sejamos a força das quinas da nossa bandeira Salvemos a nossa terra, a nossa herança O nosso hino Tracemos de novo, com coragem O destino da nossa pátria
16-09-2012 Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor)
Tornámo-nos bengalas, Figuras distantes Condenavelmente juntas Condenadamente sob o mesmo tecto
Outrora o fio, O fiozinho, O tremor e a emoção na alma jovem Plena de esperança
Agora o frio, A ausência de estar a dois Deixa-nos nus
A tarde morre E vem a noite devorar-nos No medo e na ânsia Sós Para nós Em nós Nos outros que nos vêem, sem ver Que passam E não escutam Que estão ali Mas não penetram Nas linhas profundas dos sonhos mortos Nos nossos rostos Ana Wiesenberger (in Poiesis XX)
Tenho sede de fantasia E do seu esplendor De Midsummer’ Night Dream, Alice In The Wonderland E Alice Beyond The Looking-Glass
De encontros no bosque E estrelas cintilantes A brilhar no meu vestido da Noite
De pedras onde o musgo lavra a memória De duendes e gnomos De gigantes e dragões A tecerem muros de verde Para barrar o teu caminho
Do piar das aves nocturnas A adivinharem destinos escarlate No beijo sôfrego dos amantes
Da luz da aurora a desnudar A fealdade do teu semblante Coberto pelo encantamento de Orfeu A acordar em mim as asas céleres de Pégaso Para regressar ao meu leito