Tensa Os nervos devem-se ter tornado Arames esticados Onde fazem malabarismos As minhas emoções turvas De vida
Sacudo-me como um cão molhado Incomodado no seu pêlo habituado Ao conforto do sofá
Também eu tenho vontade De andar à volta à procura Da minha cauda invisível Num reboliço de inquietação paranóica
Levo os olhos de cá para lá De dentro para fora da janela Em busca de um nicho agradável Para dar repouso à mente
A paisagem castanha de troncos nus E tapete de folhas caídas Só acorda em mim, ecos de despedida Do Verão que já não há
De repente, quando já as minhas mãos Queriam cerrar as cortinas Eis que surge um vulto fulvo mágico Que vem pousar no muro do jardim
E então, acontece-me de novo sorrir Ao vê-lo deliciar-se com as sementes de girassol Por nós espalhadas Convite para Brunch dos que têm asas Aceite por um esquilo amoroso
Este barco não tem remos Deitei-os fora Borda fora, como tudo o mais Os mantimentos A água doce As bóias Não, os livros, nunca Esses ficarão comigo E os cadernos e as canetas também
Às fotografias nunca dei importância São mentirosas Já estava cá, antes de vir Estarei aqui, depois de partir
Não viria até mim Montado num alazão digno de alta caudelaria, Mas podia surgir Numa moto de alta cilindrada, Ao volante de um jipe verde sem capota, Daqueles, que já fizeram muitas milhas e quilómetros
Seria alto e bem constituído, De ombros largos e expressivo A convidar-me a mergulhar Na profundidade verde ou azul do seu olhar
Saberia muito de moléculas e células, De animais, de plantas e de doenças E gostaria de dormir ao ar livre, em tendas, Em qualquer latitude
Saberia contar-me histórias e estórias E eu nunca me cansaria de o escutar
Faríamos muitas viagens, Mas, também, teríamos um lar, algures Com baloiço no alpendre e serenidade Ao tombar do dia
Talvez, também, tocasse piano ou violino Para nos encher a casa de beleza, Mas nunca perderia um minuto A ver jogos de futebol, em frente à televisão Teríamos filhos ou não, Bichinhos, esses, sim, com certeza E nunca teríamos medo de esbanjar tempo Para nos encontrarmos Numa tela de principiante, Num bordado simples, Numa melodia Ou num poema