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querotrazerapoesiaparaarua

querotrazerapoesiaparaarua

Acordei Bastante Tarde

Acordei bastante tarde
Dormi muito; não bem, mas muito
Como se tivesse passado a noite
A procurar nas horas longas
O descanso para as minhas forças amarrotadas
Que não vinha

Agora, café
De facto, muito café
Na ilusão terna, de que a cafeína me desperte
E a cada célula devolva
A capacidade plena de vivenciar a realidade
Com os cinco sentidos
A tecerem um Sol miraculoso
Na escuridão da minha dúvida


Há uma tertúlia de poesia
Onde eu queria estar esta tarde
O meu espírito já foi para a estação
Com receio de não apanhar o comboio
E perder o início da sessão
Mas o corpo está inerte
Aconchegado em almofadas na cama
A abominar movimento
Num cansaço que enrola o tempo
Num novelo emaranhado
Cheio de nós complicados
A desafiarem a minha paciência

E então, que faço?
Mais café, mais ar, mais vozes
Que chegam a mim pela janela do meu quarto
Para me lembrar que há vida lá fora
E eu devo elevar-me inteirinha no balanço da brisa
E agarrar o dia
Com as mãos postas em oração

Ana Wiesenberger
28-04-2013

Porque Será que estou tão desatenta?

Porque será que estou tão desatenta
Apática, até, enquanto oiço e vejo
O Otelo Saraiva de Carvalho a falar
De um Abril de 1974 feliz

Talvez, tudo me pareça irreal, estranho
Uma fantasia, um sonho de patriota
Uma vontade explosiva
Um borrão de esperança na nossa história

Parece o Momentos de Glória
Misturado com E Tudo O Vento Levou
Com qualquer coisa de Os Últimos Dias de Anne Frank
Com Elogio da Loucura ao fundo

Talvez, eu já tenha entrado numa dimensão
De Lobo das Estepes em acordes intercalados
Com o Livro do Desassossego
Com banda sonora do Grito de Allen Gingsberg
Na voz de um Rutger Hauer desesperado
Em Blade Runner

Se calhar, só estou triste
E é possível que As Ondas que vêm
E vão da televisão à minha cabeça
Me levem ao pós-Animal Farm
1984 revisitado
Admirável Mundo Novo sem soma capaz de nos iludir
Num bem-estar de equilíbrio químico

Será que vamos permanecer serenos
Como perus em véspera de Natal
Cordeiros por alturas de uma Páscoa
Que parece não terminar

Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor)
24-04-2013

Imagem - Edward Munch



Do Abril Mágico Da Minha Pré-Adolescência

Do Abril mágico da minha pré-adolescência
Ficou a distância a alongar-se em dor e revolta
Por ter acreditado que as portas se tinham aberto
Que os presos vítimas do regime de mordaça
Tinham sido libertados
Que o povo tinha voz

Do Abril ao longe
Que em cada dia que passa
Marca mais a ausência
Ficaram janelas nas nossas almas
Agora novamente gradeadas
De medo e angústia

Do Abril quase irreal
Ficou-nos a consciência triste
Feita de cumplicidade de um povo desatento
Que permitiu aos algozes da democracia
Estenderem as suas raízes canibais
No solo do nosso país pequenino e lindo

Do Abril guardado no peito
Ficaram as mãos inocentes de sangue
A empreenderem combates com as armas de outrora
Que talvez já não nos sirvam para abrir caminho

Do Abril que teremos de fazer acontecer
Não ficarão cravos nem canções
Será ainda e sempre verdade
Que O Povo Unido Jamais será vencido?

Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor)
21-04-2013

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