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querotrazerapoesiaparaarua

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Amai-vos Uns Aos Outros

Imagem - Diego Rivera

 

Amai-vos uns aos outros
Se tudo é breve
Até a alvura da neve
Se transforma em lama
Sejam a flor rara no alto da montanha
Sejam verdade
Sejam luz

Que os vossos olhos
Não pousem nos olhos dos vossos irmãos
Com ignomínia
Que os vossos lábios
Não ocultem cinismo
Por detrás dos sorrisos

Amai-vos uns aos outros
Como o calor do sol
Que a todos abraça sem distinção
Sejam mãos estendidas
Sejam pão e água
Sejam abrigo e bússola

Amai-vos uns aos outros
Na alegria
E na tristeza
Na chegada
E na partida
No recolhimento dos vossos lares
E no burburinho da multidão

Amai-vos uns aos outros
Para que no amanhã se acrescentem
As bem-aventuranças hoje construídas
Para que a solidariedade seja a força
Para que a união seja o hino

Amai-vos uns aos outros
Com a benevolência da tolerância
A coroar os dias
Com a paciência de crer, de premeditar
Na comunhão feita de integridade
Que é possível aos homens
Transcender a utopia
E dar corpo ao verbo
Religar                                                 Ana Wiesenberger 31-03-2013

 

Imagem - Diego Rivera

Pelas Janelas dos Meus Escombros

Imagem - George Grosz

 

Pelas janelas dos meus escombros
Passa a vida em episódios soltos
Numa rotação lenta de saudade
E distância

Não sei, se oiço, mas ainda sinto
E parto com eles na amargura dos desfiles
Das lutas que se querem feras
E transmudam-se em cordeiros
Pela imbecilidade das vontades
Que não construíram significados
Ao longo do tempo

É triste viver aqui
É mais triste ainda escutar o povo
E a negligência, a abstinência
Com que vivem os dias
Numa realidade pretensamente apartada
Das emboscadas que lhes criam dia após dia

E dá-me vontade de ser vento
Que os açoite até à consciência
E dá-me vontade de ser chuva
Que os acorde até se levantarem
E fico trémula com as minhas armas débeis
Feitas de letras e símbolos
A pensar-me luz e a ser sombra
A querer ser bandeira, abraço
Mão aberta, mão estendida, mão erguida
E a ser noite de dor e desilusão
Vela de esperança bruxuleante
Num horizonte negro
Em que ninguém já aposta
Liberdade

Ana Wiesenberger
27-06-2013

 

Imagem - George Grosz

A Vida Podia Ser Tão Simples

Imagem não identificada tirada da internet

 

 

A vida podia ser tão simples

Se não fora complicada

Se não fora estúpida

E obtusa

E tensa

E densa

E desperdiçada

Todos os anos

Todos os meses

Todos os dias

Todas as horas

Todos os momentos

Em que simplesmente

Perdemos a nossa sombra

E nem temos a coragem

De parar

Para a procurar

 

Ana Wiesenberger in IDADES


Imagem - não identificada; tirada da internet

SE EU MORRESSE AMANHÃ

Imagem - René Magritte

 

 

 

Se eu morresse amanhã

 

Se eu morresse amanhã

E o dia estivesse lindo

 

Se eu morresse amanhã

Sem ter ido à praia

 

Se eu morresse amanhã

Sem ter libertado os meus braços, dos abraços

Que não te prometi,

Mas tinha nos meus braços,

Só para ti

 

Se eu morresse amanhã,

Sem ver a Estrela Polar, o poente em África,

O sol da meia-noite em latitudes eslavas

 

Se eu morresse amanhã

E ainda guardasse no meu regaço

As centenas de beijos, que jurei distribuir,

Os milhões de olhos-nos-olhos, que quis oferecer

 

Se eu morresse amanhã

E o sol não viesse, no dia seguinte

 

 

Se eu morresse amanhã

E a noite celeste, teatral, já não me cingisse,

Eu queria estar no topo do meu mundo,

Acostada, empoleirada, amurada nas ameias

Do desejo do tempo,

Como se não houvesse, amanhã

 

Ana Wiesenberger in IDADES

 

 Imagem - René Magritte

ÀS VEZES O DIA É GRITO

Imagem de Christian Schloe

 

Imagem - Christian Schloe

 

Às vezes o dia é grito
Outras é silêncio
Às vezes é berço
E outras é túmulo
Das emoções que escorrem
Nas asas furtivas das horas
Que nos cingem
Mas não agarramos

Às vezes o dia é sangue
Mordaça de sentimentos
Medos que nos fazem abrigar
Aos cantos de nós
Num desespero de fera ferida
A estremecer numa teia
Que tecemos sem dar por isso
Enquanto procurávamos a luz

Às vezes o dia é fel
É desilusão de um nunca acabar
Que exila da nossa vontade
A crença pagã nos ciclos ancestrais
Que deixámos pelos caminhos

Às vezes é-se areia
Quando se quer ser rocha
Lágrima
Quando se quer ser sorriso

Ana Wiesenberger
20-06-2013

 

 

Nas Minhas Gavetas Desordenadas

Imagem tirada da internet sem identificação

 

Nas minhas gavetas desordenadas
Perdura um cheiro a mofo húmido
Dos sonhos guardados há muito
E as traças alimentam-se da poeira
Que era mágica
Alfazema da vontade esquecida
Alecrim das promessas quebradas
Madressilva das ternuras amarelecidas
Rosmaninho das tranças brilhantes
De outrora

No meu roupeiro imenso
Pululam lado a lado
Numa intimidade de memória
Os meus anos de abelha, de borboleta
De pássaro inquieto a picar
O que eu pensava ser o azul do céu
E os meus momentos felinos
Guiados pela febre de outros cheiros
Numa demanda ao luar dos encantos
Numa urgência de me eternizar
Noutros genes geradores de outros ciclos
Outras verdades, outras direcções

A porta aparentemente aberta do meu quarto
Esconde trancas indecifráveis
Códigos armadilhados
Pensamentos amotinados, cruéis
Desejosos de cercar, eliminar
O que não podem conter
Numa rejeição construída no tempo improvável
Duma meditação pagã

Por isso, o meu quarto
É toca, é antro, é covil
É mortalha cálida
Para as minhas horas
Inacabadas

Ana Wiesenberger
17-06-2013

 

Imagem tirada da internet não identificada.

 

 

 

Threads of Dust Mingle

Alice in the wonderland (imagem tirada da internet sem identificação))

 

 

Threads of dust mingle

In the memories of my paths

Through heaven and hell I crawled distances

Till I landed in your dreams

But dreams are doomed to vanish in the air

When we open our eyes

 

Daily life demands our struggle to be real

And dooms us, sometimes, to forget our longings

And our vision of the world

 

Let us dare to embrace our condition

And put an end to the loneliness in our hearts

Light a candle to fantasy and visit fairyland for short

 

No need to become a fool on the hill

No need to be one flying over a cuckoos-nest 

Just embody the freedom of your Self and

Rest in your silence

 

Then, perhaps new stars will be born in your eyes

And old fears will cease to exist

 

Ana Wiesenberger

 

 

 

Afastei-me do Mundo Real

Imagem: Tom Roberts

 

 

 

Afastei-me do mundo real

Devagarinho, a medo

Como quem quer ver outro horizonte

Mas não se atreve a procurá-lo

 

De passos lassos e leves

Submergi na dimensão eléctrica do metal

O frio da superfície assustou-me

Mas depressa me habituei

 

Para quê desbaratar as minhas energias

Pela casa

Se posso usar apenas a mão direita

Para clicar, clicar

E esquecer na volúpia da multiplicidade de imagens

Que perdi a margem

 

Para quê desejar

O tacto, o odor

Além da macieza do vosso pêlo

De amor profundo

 

E depois

Tenho mais, muito mais, ainda

Nas páginas que pululam na minha cabeça

Que se agigantam nas estantes

A cobrir os muros do meu habitat

 

A dada altura, eram só paredes

Mas arrependi-me

O único hóspede que espero com ardor

É o sol

E mesmo esse,

Não se senta comigo, em todas as horas

 

Por isso, imolei os meus dias

E as minhas madrugadas

Ao contacto doce do Rato entre os dedos

Numa beatitude

De quem sabe, que não espera a morte

Porque já a alcançou.   

 

Ana Wiesenberger in Dias Incompletos

As Pessoas são Aqueles Mamíferos Engraçados

Valerie Leonard - dog portraits

 

 

As pessoas são aqueles mamíferos engraçados

Que falam e dizem,

Convencem

E proclamam

Verdades e deuses

De hoje, de ontem

E de amanhã

 

As pessoas, são aqueles mamíferos curiosos

Que transformam a comida,

O modo de carregar as crias

E a plumagem

Camuflagem

Das idades que inventaram

 

As pessoas, são aqueles mamíferos confusos

Que superam a hiena e o crocodilo,

Que riem e que choram

Por razões inqualificáveis

E pagam, às vezes

Para as poder classificar

 

As pessoas, são aqueles mamíferos inteligentes

Que usam símbolos territoriais à toa,

Que se unem e dividem

Sem explicação plausível,

Que dormem ao contrário

Da noite e do cansaço,

Que esqueceram os sentidos,

Mas estão convencidos

Que vêem,

Que sentem nos dedos e nas glândulas

O pulsar da vida

 

Ana Wiesenberger  in Dias Incompletos

 

 

 

 

 

 

 

 

Basta!

François Escamel

 

 

Basta!

Estamos fartos de servir

Quem não serve os nossos interesses

Estamos cansados de sustentar

Os esquemas corruptos de uma Banca

Que sustém sempre os mesmos

 

Basta!

Estamos fartos de acreditar

Em Planos de Recuperação, Concertação

Que deixam o nosso país de rastos

Obrigam os nossos filhos a procurar trabalho

Além fronteiras

E inviabilizam a educação

Dos que se querem construir

 

Basta!

Estamos fartos de ver

O Desemprego a crescer

A taxa de depressões e suicídio a aumentar

Os rostos tristes e desiludidos dos mais velhos

A angústia das mães e dos pais do nosso povo

 

Basta!

Estamos fartos de ser iludidos

Rebaixados na nossa autonomia

Vendidos a retalho

Num mercado que nos suga

 

Basta!

Queremos as nossas vidas de volta

Queremos ser novamente

Um Portugal íntegro e livre

 

02-03-2013

Ana Wiesenberger

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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