Acordei bastante tarde Dormi muito; não bem, mas muito Como se tivesse passado a noite A procurar nas horas longas O descanso para as minhas forças amarrotadas Que não vinha
Agora, café De facto, muito café Na ilusão terna, de que a cafeína me desperte E a cada célula devolva A capacidade plena de vivenciar a realidade Com os cinco sentidos A tecerem um Sol miraculoso Na escuridão da minha dúvida
Há uma tertúlia de poesia Onde eu queria estar esta tarde O meu espírito já foi para a estação Com receio de não apanhar o comboio E perder o início da sessão Mas o corpo está inerte Aconchegado em almofadas na cama A abominar movimento Num cansaço que enrola o tempo Num novelo emaranhado Cheio de nós complicados A desafiarem a minha paciência
E então, que faço? Mais café, mais ar, mais vozes Que chegam a mim pela janela do meu quarto Para me lembrar que há vida lá fora E eu devo elevar-me inteirinha no balanço da brisa E agarrar o dia Com as mãos postas em oração