Os Espasmos da Madeira
Os espasmos da madeira
Na casa velha
Trazem à minha mente
Sorrisos sorrateiros de prazer
Do tempo em que o meu corpo
Era uma fogueira
Sob o teu vento de me possuir
Em vendaval
As horas passavam por nós
Como pinhas doces
Consumidas no nosso lume
De pernas, braços e bocas
Por descobrir
Na vertigem febril de nos fundirmos
Num ídolo pagão
Das eras que não conhecemos
A nossa alegria breve de primeiro cio
Abria-nos leitos em todos os espaços
Em todos os cantos
Em que nos podíamos roubar
À presença dos outros
Ainda sinto a água escura
A abençoar a nossa juventude
A areia fria a arranhar-me a pele
O riso feliz de não encontrarmos
As roupas
Mergulhámos um no outro
Desde o dia
Em que nos definimos
Como homem e mulher
Às apalpadelas um no outro
Em busca dos ecos de prazer
Mãos aprendizas na arte de tocar
Fazer eclodir arrepios de êxtase
Depois, com a destreza amadurecida
Na confiança de um mapa partilhado
Sem fronteiras e limites de conveniência
Rendidos à beleza dionisíaca da paixão
Hoje, já decerto, que nenhum de nós
Consegue estremecer como outrora
Mas, talvez, qualquer coisa banal
Também lhe leve a memória bela
E quase envergonhada
Do tempo em que éramos jovens
E sabíamos amar
Ana Wiesenberger (in Erotismus, Impulsos e Apelos)
Imagem- Donna Norine Schuster