Conheço uma árvore inconformista Rebelde, até, talvez Deceparam-lhe o tronco Só ficou um coto Uma lembrança da sua existência Um vestígio velado para a memória Daqueles que nela um dia repararam
E no entanto, ao fim de um tempo Ao passar junto ao que dela restava Fiquei estupefacta O passeio estava lavrado de verde Das raízes poderosas brotaram folhas Construíram uma grandeza de arbustos Sebes da vontade alheia Que a quis condenar ao não-ser Uma floresta em ponto pequeno A adensar por entre as pedras Alinhadas por homens A força da natureza
E eu comovi-me Fiquei enlevada pela determinação Da velha árvore que não quis morrer E derramou a força do seu querer Numa dimensão de grito Desejei, assim, ser irmã dela na pujança Na transcendência dos destinos
Creio em fadas e dragões Em árvores que escutam E pedras que falam
Ilumino a trivialidade dos dias Com sorrisos do gato brincalhão Do país da Alice E converso com o espantalho Ao final das tardes de verão
Coitado, ele, por vezes, está cansado Pesa-lhe Oz nas horas de dúvida A fiar hipóteses de perigos vários A bruxa do Norte e as congéneres de Macbeth Trazendo morte e sangue aos desavindos Fogo letal ao seu corpo de feno Angústia de separação a povoar a saudade De Dorothy Naufrágios compulsivos sob a égide De Moby Dicks sedutoras Chaves perdidas para portas de sol urgentes
Creio em fadas e dragões Seres pequeninos que habitam os interstícios Dos nossos horizontes cerrados Vozes sábias de Deuses olvidados Castelos abertos de pontes suspensas para o mar Sereias traquinas a entreterem redes de peripécias Cavaleiros-sem-Cabeça a percorrerem eras a fio Numa demanda de coragem Vítima da servidão do amor
E por isso, nunca me aborreço De estar aqui ou ali Porque estou sempre aqui e também ali Deste e do outro lado do espelho
Rio-me com o Peter Pan Deixo-me encantar pelos amuos da Tinkerbell E escondo-me dos beliscões ásperos dos Muggles Na teia de Carlota Lá na torre inacessível da bela Rapunzel