Vejo-me Como Um Velho Escaravelho
Vejo-me como um velho escaravelho
Consumido pela demência e pelo abandono
Que teima em continuar a empurrar
Uma bola imensa de excrementos
Que ainda sente útil, mas já não o será
Como se o dia fosse meta
E a noite margem
Como se algures estivesse sempre a alvorecer
E os olhos vendados por forças obscuras
Não lograssem atingir a claridade
Como se atrás de si só houvesse
Uma poeira indefinível
E diante de si
Um emaranhado impenetrável
Um labirinto de chamamentos falsos
Ecos dos pântanos onde almas confusas pereceram
E ele persegue no absurdo da caverna
Talvez saiba que são apenas sombras
Mas não há mais nada
É preciso fingir para acreditar
Ana Wiesenberger
15-12-2013
Imagem - Max Klinger