Desejo que o Ano Novo
Desejo que o Ano Novo
Aguce os sentidos do meu povo
Que ele possa estar mais atento à realidade
E não se deixe alienar pelas tabelas futebolísticas
E enredos de pacotilha no ecrã da sala
Desejo que o Ano Novo
Rasgue nas mentes a urgência de agir
A vontade de dizer NÃO
A capacidade de investir contra o logro
A coragem de saber ver, ouvir, ler
E desmantelar as tramas a que nos sujeitam
Desejo que o Ano Novo
Alumie nos nossos semblantes
A fome da verdade
A necessidade de condenar a mentira
A força de lutar pela afirmação do nosso valor
De ser hino e de ser História
Desejo que o Ano Novo
Faça crescer em nós a empatia
A consciência de sermos irmãos na fome e na dor
E nos dê a solidariedade veemente
Para sermos nobres nos corações
E coniventes nas acções do quotidiano
Desejo que o Ano Novo
Seja água primordial que lave dos nossos olhos
Das nossas mãos, dos nossos corpos
A poeira da covardia, da demissão de ser e fazer
E fortaleça nas nossas almas
A convicção da nossa responsabilidade cívica
Da premência de intervir sem medos
E não pactuar com a injustiça e o esmagamento
Dos mais fracos
Desejo que o Ano Novo
Não seja a perpetuação do mal a acontecer
Ao nosso lado indiferente, acomodado ou desatento
Que depois nos surpreende em títulos dolorosos
De pedofilia, violência familiar, maus tratos e abandono;
Seres humanos e animais ultrajados na sua condição
Vergados a pulsões doentias de quem só ama a morte
E a destruição
Desejo que o Ano Novo
Signifique nas nossas vidas
Um verdadeiro despertar
Para a dimensão de SER
Ana Wiesenberger
31-12-2013
Imagem - Thomas Moran