De costas voltadas para vida Passamos os dias entre ninharias prementes E mal-entendidos que criamos No nosso afã de fazermos de conta Que somos importantes
E ignoramos o peso das horas Que não vivemos Para ver, compreender, crescer Até que tudo nos parece sórdido, pardacento Ignóbil e fútil
Quando nos lembramos de agarrar O fio dos dias É em arranques inconsequentes Numa vontade infelizmente intermitente De sermos singulares e verticais
E o tempo desliza Os anos passam sem acenarem E quando damos por nós Já avistamos o cais derradeiro E descobrimos que não fomos Não fizemos Não deixámos nada a assinalar a nossa presença Num território que por décadas Nos foi dado ocupar
É urgente aprendermos a vestir convicções Nos nossos gestos, nos nossos passos Não desperdiçar a oportunidade de sermos voz De sermos balada, sinfonia Em vez de requiem adiado Na flor das idades Que julgámos viver
Portugal, meu amor Meu destino por cumprir Sebastião amordaçado na memória Mensagem num horizonte sempre longínquo Gaivota triste em cais de fome
Portugal, meu amor Minha pátria dos que partem E dos que esperam Por melhores dias Que tardam em chegar
Portugal, meu amor Das gentes desavisadas Das gentes desabituadas Da coragem de dizer NÃO
Portugal, meu amor Do povo amortalhado em tristeza Confuso no seu viver dos dias Que chora para dentro Envergonhado demais para confessar a dor
Portugal, meu amor Liberta-te do Fado Solta o teu grito Dobra novamente o Cabo das Tormentas Constrói a Boa Esperança com afirmação Derrota os conformismos malfazejos Os brandos costumes Cabresto infame da razão e do caminho Silêncio de vítima por preencher com vontade E determinação
Portugal, agarra a hora É sempre mais tarde Mas nunca é tarde demais