O Dia Começa Em Bruma
O dia começa em bruma
Resquícios de uma Alcácer-Quibir
Sempre presentes
Sempre por resolver
A cortar, dilacerantes
A pretensa paz por edificar em mim
Horas possíveis de construção de sentido
As vozes do passado são muitas
E os seus gritos sobrepõem-se ao presente
Tornam-me impossível conciliar
Os caminhos seguidos, ditados pela razão megera
Que me algemou ao sofrimento constante
Feridas abertas e purulentas dos sonhos sacrificados
Eternamente cativos na cave da minha vida
E só libertados em memória dolorosa
Quando a tempestade me trespassa
E me dá ganas de assassinar o real
Por ser uma mentira torpe
O dia começa com um travo estranho, bolorento
Que me causa náusea e me exila da vontade do suster
Substância que o corpo sossegou numa agonia bafienta
A amordaçar o espírito no Não-Ser
E o único rumo, que ainda me resta
É Ser através da tinta no papel amigo
Aranha triste a um canto do tempo incerto
A aguardar a morte na sua teia breve
Ana Wiesenberger
14-11-2014
Imagem - Edmund Dulac