Electrão
Electrão
Protão
Neutrão
Campos magnéticos perdidos na memória
Guardados no tempo das batas brancas
E do cheiro químico do laboratório
Que nos transmudava os ânimos em festa
Os convívios de sábado à tarde na cantina do liceu
E as primeiras meias de senhora; nylon, cor de pérola
A arranharem-me as pernas desajeitadas
Sob a saia de xadrez que me roubava o à vontade
Esse foi o tempo maracujá do exótico da descoberta
De que os opostos se atraem e os iguais se repelem
Embora isso só nos transtorne a vida e o estar
Mais tarde, a época dos espelhos, das luzes
E dos cromados das viaturas de duas e quatro rodas
Em que partíamos numa realização de som e de fúria
Que para tantos terminou em cinza
E agora, no tempo ameno dos lilases
Balança-se tudo na arca das recordações
E o início da jornada, o cheiro de baunilha do jardim-escola
Entranhado nas minhas narinas de menina
Já não me parece tão inócuo
Porque, afinal, delineou o meu caminho até ti
Talvez porque o cansaço de ser vermelho e preto
Me levasse a procurar o rosa que abarcava todos os nossos caprichos
E birras
Sem nunca deixar de ser um regaço de ternura, um reduto de apaziguamento
A caverna apetecida onde os nossos olhos viviam as aventuras coloridas
Que passavam no ecrã gigante da alvura da parede na nossa sala de cinema
Ana Wiesenberger
11-02-2015
Imagem - Jeremy Malvey