Nunca Gravei As Minhas Iniciais
Nunca gravei as minhas iniciais
Com as de outrem
Num coração tosco
Num tronco de árvore do jardim
Nunca o fiz também
Nas carteiras de madeira da escola
Daquele tempo
Talvez nunca sentisse vontade
De associar o meu nome a outro nome
Como se soubesse de antemão
Que tal nunca faria sentido
Vivi, antes, como uma árvore
Que cresce em ramos
Ao Longo das sucessivas Primaveras
Que em si a força encerra
Expandi-me num processo de integração consentida
Sem perder a identidade
Acrescentei, apenas, à minha existência os eleitos
Um filho, um marido, vários seres lindos de quatro patas
Em que consigo ver o meu rosto oculto
E assim, perturba-me, por vezes
A facilidade com que as pessoas se colam umas às outras
Nu ma fúria desmesurada de criar sentido na ausência dele
Da construção de um espanta-espíritos débil
Para fazer face à morte – ao fim
Ana Wiesenberger
28-03-2015
Imagem – Vincent Van Gogh