De Novo Na Estrada
De novo na estrada
Ignoro a paisagem
Um olhar de soslaio
De quando em quando
Ao ajeitar os óculos
Ao acender um cigarro
Baixar o vidro
Para deixar entrar o ar
É sempre esta imensidão de asfalto
A confundir-me as moradas
De que me esqueci desta vez?
A camisola preta com capuz
E a alma?
Essa vai pendurada na maciez do teu pêlo
Aninhada em ti numa laçada profunda
De náufrago determinado na missão de sobreviver
Mais um café, uma ida à casa de banho
É espanhol ou já é francês o que aqui se fala
E já com o desejo absurdo de ouvir alemão em redor
Com um alívio de filho de divorciados em fim-de-semana
No outro ramal da família que mora longe
E que já tece na distância a maçada insuportável das malas
E das horas desperdiçadas
Sempre na urgência de partir
Sempre na urgência de chegar
Ana Wiesenberger
10-04-2015
Imagem – Van Gogh