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querotrazerapoesiaparaarua

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Porque Não Me Percebes

Henri de Toulouse-Lautrec - la toilette

Porque não me percebes
Porque nunca entendes
As palavras que te estendo
As frases que te dou

 

É tudo pueril
É tudo supérfluo
Não conseguimos abrir
As nossas cabeças aos outros

 

As nossas emoções
Os nossos medos
A solidão a pesar sobre os ombros
A angústia, o mal-estar a transtornar-nos o dia
É como um anel demasiado apertado no dedo
Que só talvez se aparte de nós
Quando a vida também o fizer

 

Provavelmente nada é partilhável
Talvez, sejamos todos
Tão diferentes de tão iguais
Tão isolados e tão estupidamente próximos
Náufragos de ilusões
Na nossa grande pequenez
De querermos ser alguma coisa com sentido
E ficarmos sempre aquém da meta
Ou pior, remetidos a uma imbecilidade satisfeita
De quem não se vê e se imagina grande
A encher os olhos dos outros com uma admiração
Que só existe na sua cegueira covarde

 

Se houvesse algo que pudéssemos partilhar
Nos ecos dos dias
Deixaríamos de ser estranhos
Empacotados em embalagens semelhantes
Nas prateleiras dispersas da mesma época


Ana Wiesenberger
23-05-2015

Imagem – Henri de Toulouse-Lautrec

 

 

1º de Maio

The Exploiters - Diego Rivera

1º de Maio

Como pode este dia
De luta e dor
De sangue derramado
De angústia pelo que falta cumprir
Ser apenas colhido
Como um pretexto para convívio
Entre amigos
Com a bestialidade da ausência de consciência
Servida em copos e pratos
Grades para o que se passa em redor

 

Sei que as imagens da minha infância
Já não se repetem
Não há multidões a dispersarem de S. Bento
Perseguidas pelos cassetetes da polícia
E os cães instrumentalizados para induzir o terror

 

Mas o medo voltou com outro rosto
O povo teme a espiral de perda crescente
Destes últimos anos
Os postos de trabalho, os direitos adquiridos
Agora espezinhados, anulados, estropiados
Pela hegemonia das altas finanças
Pela especulação bárbara que só serve as minorias
Engordadas com o nosso suor, o nosso esforço
As nossas vidas malbaratadas
Presas sem esperança nas malhas da corrupção firme
Que não perece sob o punho da justiça

 

As mulheres e as crianças continuam a ser os mais fracos
Salários mutilados pelo género
Violência consumada entre portas
Porque os seus homens covardes trazem a ira e a frustração
Para casa, em vez de lhes dar voz na praça pública

As crianças mal alimentadas
Sofrem no quotidiano o corte nos salários, o desemprego
E as pensões irrisórias dos avós
Hipotecam precocemente o futuro
Depauperadas pelo mal-estar na família, tristes, revoltadas
Incapazes de abarcar a aventura do aprender

 

Por isso, neste 1º de Maio
Que muitos festejam além-fronteiras
Exilados pela necessidade de sobreviver
Talvez fosse apropriado, reflectirmos
Será este o Portugal que desejamos ter?

 

Ana Wiesenberger
01-05-2015

Imagem - Diego Rivera

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