Se Eu Fosse Um Polvo
Se eu fosse um polvo
Tinha muitos pés para secar
Depois do banho
Se eu fosse um pato
Escondia-me por entre o mato
Junto ao lago
E fazia um quá quá estridente
E inesperado
Para assustar no banco, os namorados
Se eu fosse um ganso selvagem
Fazia muitos voos nocturnos
Com escalas intercaladas em lugares interessantes
E mesclava a quietude da noite
Com o grito do meu bando
Se eu fosse um gato
Perseguia os passarinhos com o meu olhar intenso
E abria as garras a tempo de os apanhar
Só para me divertir
Ou para os devorar
Se o meu estômago estivesse vazio
E não houvesse prato de comida à minha espera
Num canto da cozinha
Se eu fosse um cão
Fazia um sonoro ão ão
Para a vizinhança da presença de um estranho alertar
E conhecia as pessoas boas e más pelo meu nariz astuto
Sem precisar de indicadores filosóficos ou políticos
Se eu fosse um lobo
Era dono das florestas e tinha um covil inacessível nas montanhas
Onde aguardava ansioso que a neve me cobrisse de encanto e magia
Para me confundir com a paisagem
Se eu fosse, se eu fosse
Quem dera sempre ser
O que se não é
Para aprender a ser
O que realmente se é
Ana Wiesenberger
25-10-2015
Imagem - Gisela Hammer