Esquilo, esquilinho Centelha penugenta de vida Leva-me contigo e ensina-me a leveza, a alegria De quem só acata a autoridade da mãe natureza Que dita a chuva, o frio e o calor em cada dia
Tu não conheces os minutos pardos O peso das horas sem sentido Os passos da solidão, do desalento E a escuridão só te convida Ao recolhimento útil à tua energia
Esquilo, esquilinho Volta também amanhã à minha morada Acena-me com a tua liberdade Acolhe na tua ventura a minha alma pequenina
Quando a hora nos transforma num morcego velho Demasiado débil para abraçar a noite Com as suas asas de veludo Deveríamos confiar o rumo dos nossos pensamentos Ao rebanho imenso das sensações que o dia nos oferece
O conforto quente do café a entrar em nós de manhã Um raio de sol que nos faz piscar os olhos A intimidade do sorriso sincero dos amigos Quando nos encontramos por acaso A macieza dos lençóis a envolver o corpo Numa embriaguez que nos conduz ao sonho A frescura da água a acordar nos nossos rostos Uma promessa de renovação numa nova jornada O peso e o tilintar das chaves no bolso ou na mala Que sabe à segurança de quem tem um abrigo Uma parte do mundo que é só nossa E escolhemos partilhar ou não com os demais
Quando a hora nos transforma num morcego velho Deveríamos transferir o nosso espírito Para o baloiço da infância que nos levava para alto Muito alto E nos fazia sentir a leveza de sermos bolas de sabão coloridas Sopradas por um Deus de amor
Corredores Não vejo portas, mas sei São corredores Túneis; espaços longos, estreitos Que vão dar a outros Ou talvez não
Corredores Estreitos, gargantas de monstros Onde fomos parar Sem dar por isso De onde é preciso sair Mas nunca A qualquer preço
Corredores Línguas confinadas que nos aprisionam Ilusões de caminhos bifurcados Que alguém se esqueceu de concretizar
Corredores Escuros, luminosos Breves, longos Passagens que nos gradeiam a escolha De ir ou ficar
Corredores Que talvez nos levem ao Sol Que talvez nos escondam na penumbra Que talvez sejam a outra face da Lua O outro modo de ser, estar, viver Num entretanto contínuo Que nos assusta Que nos estrangula O grito A consciência de estarmos imersos Perdidos na teia da razão A suplicar um amanhã cristalino Que já não vem