Este Estar E Não Estar
Este estar e não estar
Quando se quer estar
E não se consegue
Magoa as horas como um prego rombo
A que se força a entrada na madeira
Com o aço do punho forte de martelo
Respira-se os outros
Oculta-se a própria respiração
E o vidro dos dias fica baço
Como um aquário sujo
Que a negligência humana
Condenou a ser turvo
Habitat desconfortável para as horas-peixe
Que deambulam no lodo
Este estar e não estar
De quem sente não vestir os minutos
Dos gestos que reclamam
Rebenta pequenas bolhas à superfície dos actos
Palavras que não saem do alçapão da vontade
Olhares que abortam o brilho da comunicação
Antes de chegarem ao outro
Silêncios desvairados, acossados, esquecidos
Incapazes de ser velas dos dias
Ana Wiesenberger
Imagem – Almada de Negreiros