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querotrazerapoesiaparaarua

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Quando estou em Portugal

Amadeo Souza Cardoso 2

 

Quando estou em Portugal, na grande cidade litoral

Acontecem-me remoinhos de saudade inesperados

Faltam-me os bosques da Alemanha

O silêncio dos caminhos

 

O sol português abraça-me e sustenta-me em pilares de luz

O mar embala-me com a sua ternura ancestral inesquecível

Porém, não sacia a minha sede de verde e mistério

Onde as ondas da imaginação crescem em histórias

 

A natureza humana condena-nos à insatisfação

Desaprendemos o nosso lado animal

Não sabemos saborear o presente

Se está frio, não se pode sair de casa

Se está calor, não se consegue respirar

 

Eu observo e admiro a graça com que os meus cães

Se entregam aos momentos do dia

Quando passeiam, apreciam a erva fresca, o solo gelado

Coberto de neve ou enlameado

Quando regressam ao lar, e se ninguém com eles brincar

Aninham-se junto a nós e desfrutam da nossa companhia

 

Mas os humanos nem nos afectos se satisfazem

Se estão com A, querem estar com B

Se estão sós, pesa-lhes a ausência

Se estão acompanhados, depressa se enfastiam

E assim, nunca estão onde querem estar

Nunca vivem como desejariam viver

 

Por isso, a morte nos deixa a todos de olhos abertos

Surpreendidos pela efemeridade da nossa existência

E quem sabe, ainda tenhamos um segundo de reflexão

Para lamentarmos o desperdício da dádiva da vida

 

Ana Wiesenberger

09-01-2017

 

Imagem – Amadeo Souza Cardoso

 

 

 

 

A astrologia não me ajudou

T03327

 

A astrologia não me ajudou

A ciência não me ajudou

Talvez, Deus tenha tentado fazê-lo

Porém, encontrou a minha distracção

E ela inviabilizou-lhe o caminho

E depois, com tantos bonzinhos por aí

A fazerem caminhadas de fé

Gulosos pela misericórdia e pela salvação

Deus deve andar muito sobrecarregado

 

 

Os cães têm-me ajudado

São incansáveis – os verdadeiros anjos

Que nos é dado sentir e confirmar

Há sempre novas feridas a desgraçarem

A epiderme da alma

Eles tentam curá-las com a força do amor

Porém, há quem já esteja para além de tudo

E se transforme numa chaga pútrida

 

 

Em verdade vos digo

Os tortos ficam cada vez mais tortos

E os direitinhos roubam-nos o direito

De estar à mesa da nossa existência

Como se a dignidade fosse um cinto

Que se comprasse nas lojas de marca

 

 

Divertem-se a expor o pus dos nossos dias

E dos nossos gestos

Para mascarar a pobreza das emoções das suas vidas

Tão falsas, de engomadas

Como a roupa e as decisões que vestem as suas horas

 

 

Resta-nos o ilusionismo dos desejos

As máscaras com que brincamos

Na alegria triste de sabermos

Que a cada passo, estamos mais sós

E mais perdidos

Frágeis como bolas de sabão

A enfrentar o vento das aparências

 

 

Ana Wiesenberger

16-09-2015

 

Imagem – Jackson Pollock

A tarde despede-se num sussurro

Landscape-at-Dusk - Van Gogh

 

A tarde despede-se num sussurro

Melancolia das horas diurnas

Já entrelaçadas com a noite misteriosa

Que tudo envolve na sua negrura

E no seu silêncio

 

As árvores nuas cravam no momento

O desamparo da condição humana

Solidão cósmica que a razão esquece

Para viabilizar o cenário da vida

 

 

Ana Wiesenberger

 

Imagem – Van Gogh

Lentamente

AugusteRodin-The-Kiss-03

 

Lentamente

Deixei o meu corpo deslizar até ti

Lentamente

Entreguei os meus desejos

Às tuas mãos ternas

 

Lentamente

Encontrei em ti

A paz que procurava

 

Afugentei todos os uivos de mim

Acorrentei as fúrias das mágoas mil

Bem longe de nós

E escondi-me doce e leda

A um canto de ti

 

Ana Wiesenberger

18-09-1994

 

Imagem – Auguste Rodin

Vivo por correspondência

the-false-mirror-1928 - René Magritte

 

Vivo por correspondência

Numa época epistolar

Que, pelo menos, preza

Pela celeridade

 

As mensagens ora breves, ora longas

Sustentam a minha necessidade

De não me sentir ausente deste mundo

De poder acreditar

Que alguém lá longe pensa em mim

Mesmo que, ao de leve

 

E o dia desliza em frente ao ecrã

As horas, os meses passam

E a existência assim vivida

Sabe a papel pardo de embrulhos

Que há muito recebemos com amor

 

Não sei, se a escrita é fuga

Exílio, ou apenas a vontade

De ser muitos rostos, muitos destinos

Que poderiam ter sido reais

Se tivéssemos voltado à esquerda

Ou à direita

Nas encruzilhadas do destino

 

Ana Wiesenberger

22-12-2016

 

Imagem - René Magritte

 

 

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