Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

querotrazerapoesiaparaarua

querotrazerapoesiaparaarua

Não sei, se me escondo

Henri Matisse still-life-with-books-and-candle-1890

 

Não sei, se me escondo

Ou se me abrigo apenas

Sob as múltiplas capas

Ao longo do dia

 

Quando em redor de mim

Tudo é cinzento nu

Escalda-me o sol da América Latina

Com Isabel Allende, Garcia Marquez

E Vargas Llosa

 

Viajo no tempo e passeio-me

Na Berlim de outrora com Hans Fallada

Estremeço com os solavancos

Da história de uma setter irlandesa com Stephanie Zweig

E rio-me com os disparates de Kishon

 

Mergulho na angústia do êxodo rural da América de Steinbeck

Dou um salto à minha amada Lisboa com Tabucchi

E penetro nos meandros da escuridão da natureza humana

Nas tramas surpreendentes de Patricia Highsmith

 

Livros para acordar

Livros para adormecer

E vejo-me como Firmin de Sam Savage

Um rato ávido de letras

A devorar páginas para se manter vivo

 

Ana Wiesenberger

08-02-2017

 

Imagem – Henri Matisse

Uns E Outros

T14302

 

Uns e outros

São os dias que passam por nós

Ecos de riso, queixas, frases sem sentido

Interjeições convenientes para preencher um vazio

No diálogo, no fio imperfeito da nossa comunicação

 

Uns e outros

São os dias que passam por nós

Júbilo e dor

Amores e desamores

Nascimentos que festejamos

Velórios a que assistimos

Recordações dos laços que foram

Ou perduram dentro de nós

 

Uns e outros

São os dias que passam por nós

O tempo que ora corre como um regato veloz

Ou adormece como um ancião cansado

E faz coxear os ponteiros do relógio

 

Uns e outros

São os rostos que passaram por nós

Que nos amaram

Que nos feriram

Que nos esqueceram

Que esquecemos

Lengalengas de infância encravadas na memória

Papagaios de papel desbotados

A vaguear em sonhos perdidos

 

Ana Wiesenberger

04-02-2017

 

Imagem – Yves Tanguy

Quando Passavas na Avenida

 Quando passavas na avenida
Com o teu passo elástico
Eu seguia a energia do teu corpo
Com a gula de um gato
A mirar um pires de leite
A deslocar-se para longe
Dos seus bigodes ávidos

Entretive-te no meu olhar
Passeei-te pelas minhas palavras
Senti o esforço dos teus músculos tensos
A dominar o arco das tuas expressões
Do teu ser inquieto, altivo e distante

Adivinhava-te no fogo dos olhos
O calor da tua libido cintilante
Estremecia colada à brusquidão
Dos teus movimentos naturais
Que em mim suscitavam desejos
Que eu não queria assumir

Apetecia-me entrar nos teus sonhos
Sentir cada centímetro da tua pele
Sob os meus lábios
Abocanhar-te a nuca quente
Misturar-me contigo
Numa dimensão alucinada
Ser seiva e raiz
Uivo e rugido
Num bosque de outra era

E contudo, só as nossas mãos se tocaram
Ao de leve, num momento breve, desajeitado
Na troca de um livro
De que ambos gostávamos
E toda a paixão
A real e a imaginária
Esvaiu-se por entre Os Vagabundos de Gorki
Adormeceu no colo de Teresa Raquin


Ana Wiesenberger
(in Erotismus, Impulsos E Apelos)

Poema dito no programa "Amantes da Poesia" de Maria Isabel Rodrigues, na Popularfm

Raramente Choro

 

Raramente choro

E no entanto, quando o faço

Pareço querer transformar o Tejo e o Sado

No Amazonas

 

As lágrimas não trazem alívio

Destroem pestanas

Deixam os olhos inchados

E no dia seguinte, fazem-nos sentir pior

Ao vermos a ruína em que a tempestade

Transformou os nossos rostos

 

Não sei, porque elas me acontecem

Há tanta dor reunida em dias de olhos secos

Chego a pensar, que são matreiras

E esperam pelo momento

Em que baixamos a guarda à tristeza

Só porque a ela já nos habituámos

 

Sempre achei, que Hemingway tinha razão

A man can be destroyed but not defeated

Daí, as guerras não terem fim

E as vidas tortuosas se alongarem

Em vez de se extinguirem

Dobradas sob a desesperança dos dias

 

Hoje à noite chorei

Mas já untei as pálpebras e as bochechas

De creme reparador

Não me apetece empanturrar-me de realidade

Antes de tomar o pequeno-almoço

É pena, que ainda não inventassem

O sérum perfeito para compor

As mossas e as marcas do desassossego na alma

 

Ana Wiesenberger

Raramente Choro

T05010

Raramente choro

E no entanto, quando o faço

Pareço querer transformar o Tejo e o Sado

No Amazonas

 

As lágrimas não trazem alívio

Destroem pestanas

Deixam os olhos inchados

E no dia seguinte, fazem-nos sentir pior

Ao vermos a ruína em que a tempestade

Transformou os nossos rostos

 

Não sei, porque elas me acontecem

Há tanta dor reunida em dias de olhos secos

Chego a pensar, que são matreiras

E esperam pelo momento

Em que baixamos a guarda à tristeza

Só porque a ela já nos habituámos

 

Sempre achei, que Hemingway tinha razão

A man can be destroyed but not defeated

Daí, as guerras não terem fim

E as vidas tortuosas se alongarem

Em vez de se extinguirem

Dobradas sob a desesperança dos dias

 

Hoje à noite chorei

Mas já untei as pálpebras e as bochechas

De creme reparador

Não me apetece empanturrar-me de realidade

Antes de tomar o pequeno-almoço

É pena, que ainda não inventassem

O sérum perfeito para compor

As mossas e as marcas do desassossego na alma

 

 

Ana Wiesenberger

06-01-2017

 

Imagem – Pablo Picasso

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Corredores, 2015

Portugal, Meu Amor, 2014

Idades, 2012

Dias Incompletos, 2011

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D