1º de Maio
Há dias que são apenas números
A hora que o despertador marcava
Quando despertámos
A identificação do autocarro
Que nos leva para o emprego
A data que escrevemos no quadro
Antes de dar início a mais uma aula
Há dias que nos medem a existência
E nos recordam o tempo que passou
A data de Aniversário, a Passagem do Ano
O Natal, a Páscoa, até mesmo o Carnaval
Com ou sem folia
Há dias historicamente comemorativos
Mas lamentavelmente isentos de significado
Na nossa memória infiel
Ou na falta de interesse e conhecimento
Com que sulcamos a vida
Há outros que se erguem em nós
Com um frémito de orgulho e entusiasmo
Que nem a desilusão dos outros que depois vieram
Consegue remetê-los ao esquecimento
E há dias que deviam permanecer em nós
Com o peso da luta e da resistência
Da afirmação da coragem
Da barreira do medo superada
E muitas vezes chacinada atrás das grades
Ou derramada em sangue pelas ruas
O 1º de Maio de 1886 em Chicago
Levou à praça a exigência das oito horas laborais
Que hoje damos como garantidas
Houve feridos, houve mortes, prisões
Mas não desistência nem conformismo
E por isso, desde 1889 que o 1º de Maio
Foi consagrado Dia do Trabalhador
Em Portugal houve sempre vozes
Que se atreveram a gritar a força deste dia
Sob os cassetetes do regime fascista
E o risco da prisão, da tortura e do degredo
Hoje podemos reivindicar
Vivemos em democracia
Triste é constatar, que muitos gostam de falar
Mas não têm empenho, nem vontade para lutar
Pelo muito que ainda há a conquistar
Ana Wiesenberger