Nestes Tempos Sem Rei Nem Roque
Nestes tempos sem Rei nem Roque
Já nem a quem se quer bem se acode
E só se vive bem
A mostrar o que se não tem
De resto, se calhar foi sempre assim
Mas agora com tantas redes sem fim
Descobrem-se em janelas sempre abertas
Que há muitos e muitas parvas espertas
A interioridade dilui-se na aparência
E a verdade das coisas é uma inconveniência
Ninguém tem vontade de ver o outro descomposto
Se só das uvas se louva e aprecia o mosto
E por isso, muito se vê, não obstante o pouco que se faz
As tintas da individualidade são lavadas com aguarrás
E se alguém tem o despropósito da mediocridade denunciar
Torna-se indesejável porque à vida não sabe reinar
Ana Wiesenberger
08-01-2019
Imagem – Arturo Souto