Adoecem-me As Pessoas Piegas
Adoecem-me as pessoas piegasSem razão
Tão entretidas entre as suas mágoas
Light
Que não vêem os pássaros mortos
No passeio
Que não sentem o frio do abandono
Dos cães que erram esfaimados
Pela cidade
Adoecem-me as pessoas importantes
Sem substância, nem conteúdo, que valha
Adquirir
Iluminadas pelas suas roupas plumosas e
Vistosas
A respirarem euros, das marcas
A condizer
Com os dias e os lugares por onde
Passeiam
Adoecem-me os pobres de espírito
Cheios de si
A encherem os cafés com caudais de vozes
Exaltadas à toa
Das suas convicções de pacotilha
Que munidas de garrafas de cerveja
Bafejam o ambiente, com a vitória dos seus clubes
E os erros dos árbitros, dos quais conhecem melhor os passes
Dos que os esgares, das mulheres com quem
Dormem
Adoecem-me os maneirismos educados
Dos intelectuais convencidos
Da imensidão dos seus conhecimentos
Que entretêm as multidões, do lado de lá
Do ecrã
Nas salas apertadas, entalados entre preocupações reais
E pouca fé num amanhã de sol
Por isso, fico em casa, quietinha, de televisão desligada
Com a cabeça em curto-circuito, intermitente
E deixo deslizar as horas, enquanto tento aprender
A pensar
Ana Wiesenberger in Liberdade