O Retrato De Dorian Gray Na Minha Alma
O Retrato de Dorian Gray na minha almaEstilhaça-se em fagulhas cruéis
Saem de mim, braços violentos
Capazes de dobrar os silêncios antigos
Em teias assassinas
Para amordaçar os dias
Num estrangulamento de raiva
Não vivo. Abocanho tudo em redor de mim
Numa fúria de vulcão ressuscitado
Numa loucura de quotidiano em Apocalipse
Numa transcendência de sangue roubado
Ossos moídos, triturados
Ao longo das eras
De dia, mastigo envergonhada os gemidos
Do cansaço
De noite, os uivos dominam o espaço
Num rigor de destruição abominável
Deixei de cingir em mim o tempo
É ele que me torce e arranca
Numa brutalidade de fera ferida
Numa vingança lenta e talvez premeditada
Pelo garrote velho da racionalidade esventrada
O Retrato de Dorian Gray na minha alma
Abre-se em gritos e punhais
Para assassinar no presente
O passado que vivi
Ana Wiesenberger
Imagem - David Walker
23-11-2012
