Não Sei, Se São Saudades do Meu País
Não sei, se são saudades do meu paísOu as outras, as da infância
O tempo da inocência, da crença
Dos sonhos que haviam de vir
Não sei, se são os arcos da memória
A torturarem-me em flechas elegantes
A insinuarem em mim
Imagens longínquas de praças e ruas
Ao sol
Não sei, se é Lisboa a rasgar-se
Por entre os meus dias de frio
Longe do Tejo de menina
E do Sado da adolescência
Não sei, se são os sons nasalados
De Pão e de Não que me faltam
Se são os rostos abertos em sorrisos
Dos amigos que encontramos, por acaso
No café
Não sei e talvez não seja bom para mim
Escavar na ausência
Ecos e vozes de outras datas
Quando escolhi aceitar nos caminhos
A luz amarga da razão
Amanhã, não
Depois de amanhã e outro amanhã
Seguido de muitos outros amanhãs
Hei-de abraçar em mim, sôfrega
Uma língua, uma casa de janelas abertas
Uma proximidade terna
De que nunca me cheguei
A exilar
Ana Wiesenberger
26-01-2013

Fotografia - Carlos Chagas