Androgynos
Esculpi-te na minha névoa
Palmo a palmo
Senti os teus ombros
Nascerem das minhas mãos
Trabalhei, depois
A densidade muscular do teu peito
A linha seca dos quadris
As nádegas perfeitas
As pernas fortes como colunas
Os pés largos e atléticos
Fiz, então uma pausa
Para contemplar a obra em curso
E senti-me vã e trivial
Um corpo de Amor não tem rosto
E não sei, se terá sexo
Alma terá com certeza
E então, comecei de novo
De um bloco de pedra alva
Surgiu um vulto andrógino
Magnífico
Não era um homem
Não era uma mulher
Era um ser indistinto
E contudo, tão distinto nas suas feições
Propensas à ternura, à compreensão
À companhia
Os olhos eram límpidos
Sem medo de ver
Os ouvidos bem delineados
Sabiam escutar
E a boca suave
Preparada para deixar fluir
Palavras que são ideias e elos
Isenta de cinismo
Os braços eram sólidos
De uma solidez capaz de erguer
Alguém do chão
Mas nunca de derrubar
O tronco cinzelado com cuidado
Poderia ser seio de alimento
De um lado
Do outro, uma lisura maciça
A prometer abraços, conforto
E unidade
As pernas eram ágeis
Para correr livre como as gazelas
Os pés proporcionados
Para sustentarem longas horas de pé
Em assembleias de cidadãos
Concretizações de uma democracia nobre
E o sexo, não era sexo no singular
Para ser feminino e masculino
Num só ser
De mãos dadas
Vocacionado para amar
Ana Wiesenberger
12-02-2013