Tenho A Certeza Que O Céu É Uma Biblioteca
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Festejar hoje Abril
É manter a história de um povo viva
Nas gerações que não o viveram
Mas que dele beneficiam
É enfrentar a incredibilidade nos rostos jovens
Perante a realidade histórica do antes e depois
Que não conseguem vislumbrar
Um dia virá em que o fulgor de Abril
Só será testemunhado nas fotografias antigas
Num compêndio de história
E será mais uma data a aprender
Tão distante dos dias como para nós
A Implantação da República e a Restauração
Não é possível contrariar o impacto do tempo
Mas é possível vivificar uma mensagem
Ilustrá-la com o registo artístico de tantos
Que lhe souberam dar voz, cor e melodia
Por isso, hoje e sempre
Cabe-nos celebrar o 25 de Abril
Com o peito aberto
Em cravo, coragem e caminho
Ana Wiesenberger
Os meus poemas estão gastos, puídos
Como roupas velhas
Máscaras descartadas para o vazio
Das peças que há muito saíram de cena
Leio-os, como se neles acariciasse
O desejo de um devir que embalo
Numa incerteza de maré baixa
Névoa a suplicar raios de Sol
Estrelas que iludam e animem
A minha vontade de sonhar universos
Nos labirintos das folhas brancas
01-01-2020
Imagem - Milan Thomka Mitrovsky
Ganhei medo aos dias
Como se em cada hora
A agulha dos minutos
Pontuasse a minha carne
Com pequenas feridas
Ana Wiesenberger
17-10-2019
Imagem – John French Sloan
A escrita exige
Consome
Sacia
Abre janelas
Desenha nuvens
Aquece
Estremece
Enlouquece
Porém, se dela fugimos
Por medo ou cansaço
Castiga-nos com arremessos de silêncio
Esmaga-nos com piruetas de sílabas
Teatro de sombras chinesas
A assombrar o nosso cérebro inseguro
Rastejamos, então, humildes
Escravos vencidos a mendigar o perdão
As boas graças que nos devolvam o verbo
A capacidade de respirar estrofes
Parágrafos sempre imperfeitos
Escritos com a tinta das nossas veias
A galgar o muro branco da página
Ana Wiesenberger
21-05-2019
Quando o tempo vai e vem
Num percurso sem sentido
Há que enveredar pelas sombras
E descobrir o campo magnético
Que o disparata sem nos suster
Ana Wiesenberger
31-03-2019
Imagem – René Magritte
Nestes tempos sem Rei nem Roque
Já nem a quem se quer bem se acode
E só se vive bem
A mostrar o que se não tem
De resto, se calhar foi sempre assim
Mas agora com tantas redes sem fim
Descobrem-se em janelas sempre abertas
Que há muitos e muitas parvas espertas
A interioridade dilui-se na aparência
E a verdade das coisas é uma inconveniência
Ninguém tem vontade de ver o outro descomposto
Se só das uvas se louva e aprecia o mosto
E por isso, muito se vê, não obstante o pouco que se faz
As tintas da individualidade são lavadas com aguarrás
E se alguém tem o despropósito da mediocridade denunciar
Torna-se indesejável porque à vida não sabe reinar
Ana Wiesenberger
08-01-2019
Imagem – Arturo Souto
Eles são tantos
E tão poucos
Os silêncios que me abafam
A vontade de ser Sol e Lua
Tarde e Noite
Verão entrelaçado da invernia mais glacial
Alguma vez vivida
Eles são tantos
E tão poucos
Os dias assimilados no calendário
Com uma fome frutífera
Eles são tantos
E tão poucos
Os anos que por nós deslizam
Sem vermos
E os outros que ainda virão
Estradas bifurcadas, estranguladas
Entre o que foi e poderia ter sido
Iluminadas por um letreiro em que o Porvir
É uma estreia sempre adiada
Pelo presente que não conseguimos construir
Ana Wiesenberger
10-11-2018
Imagem – Salvador Dali
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