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querotrazerapoesiaparaarua

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Festejar hoje Abril

Festejar hoje Abril

É manter a história de um povo viva

Nas gerações que não o viveram

Mas que dele beneficiam

 

É enfrentar a incredibilidade nos rostos jovens

Perante a realidade histórica do antes e depois

Que não conseguem vislumbrar

 

Um dia virá em que o fulgor de Abril

Só será testemunhado nas fotografias antigas

Num compêndio de história

E será mais uma data a aprender

Tão distante dos dias como para nós

A Implantação da República e a Restauração

 

Não é possível contrariar o impacto do tempo

Mas é possível vivificar uma mensagem

Ilustrá-la com o registo artístico de tantos

Que lhe souberam dar voz, cor e melodia

 

Por isso, hoje e sempre

Cabe-nos celebrar o 25 de Abril

Com o peito aberto

Em cravo, coragem e caminho

 

Ana Wiesenberger

Os Meus Poemas Estão Gastos, Puídos

Milan Thomka Mitrovsky

Os meus poemas estão gastos, puídos

Como roupas velhas

Máscaras descartadas para o vazio

Das peças que há muito saíram de cena

 

Leio-os, como se neles acariciasse

O desejo de um devir que embalo

Numa incerteza de maré baixa

Névoa a suplicar raios de Sol

Estrelas que iludam e animem

A minha vontade de sonhar universos

Nos labirintos das folhas brancas

 

Ana Wiesenberger

01-01-2020

Imagem - Milan Thomka Mitrovsky

A escrita exige

A escrita exige
Consome
Sacia
Abre janelas
Desenha nuvens
Aquece
Estremece
Enlouquece

Porém, se dela fugimos
Por medo ou cansaço
Castiga-nos com arremessos de silêncio
Esmaga-nos com piruetas de sílabas
Teatro de sombras chinesas
A assombrar o nosso cérebro inseguro

Rastejamos, então, humildes
Escravos vencidos a mendigar o perdão
As boas graças que nos devolvam o verbo
A capacidade de respirar estrofes
Parágrafos sempre imperfeitos
Escritos com a tinta das nossas veias
A galgar o muro branco da página

Ana Wiesenberger
21-05-2019

Nestes Tempos Sem Rei Nem Roque

Arturo Souto

Nestes tempos sem Rei nem Roque
Já nem a quem se quer bem se acode
E só se vive bem
A mostrar o que se não tem

De resto, se calhar foi sempre assim
Mas agora com tantas redes sem fim
Descobrem-se em janelas sempre abertas
Que há muitos e muitas parvas espertas

A interioridade dilui-se na aparência
E a verdade das coisas é uma inconveniência
Ninguém tem vontade de ver o outro descomposto
Se só das uvas se louva e aprecia o mosto

E por isso, muito se vê, não obstante o pouco que se faz
As tintas da individualidade são lavadas com aguarrás
E se alguém tem o despropósito da mediocridade denunciar
Torna-se indesejável porque à vida não sabe reinar

 

Ana Wiesenberger
08-01-2019

 

Imagem – Arturo Souto

 

Eles são tantos

Eles são tantos
E tão poucos
Os silêncios que me abafam
A vontade de ser Sol e Lua
Tarde e Noite
Verão entrelaçado da invernia mais glacial
Alguma vez vivida

Eles são tantos
E tão poucos
Os dias assimilados no calendário
Com uma fome frutífera

Eles são tantos
E tão poucos
Os anos que por nós deslizam
Sem vermos
E os outros que ainda virão
Estradas bifurcadas, estranguladas
Entre o que foi e poderia ter sido
Iluminadas por um letreiro em que o Porvir
É uma estreia sempre adiada
Pelo presente que não conseguimos construir

Ana Wiesenberger
10-11-2018

Imagem – Salvador Dali

rose-meditative Salvador Dali

 

 

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