Na Primeira Vez, Na Vez Primeira
Na primeira vez, na vez primeira
Os teus olhos azuis sorriam
Ao castanho dos meus
Na delícia da transgressão
A consumar o rito de passagem
Abandonámos a inocência
Felizes e exaustos
Naquele fim-de-semana de Primavera
Com vista para o mar
Na primeira vez, na tua vez primeira
Os teus olhos castanhos profundos
Temiam a paixão dos meus
Deixaste-te enlevar
Por entre os meus sete véus
E deslizaste sobre o meu corpo
Como quem se despenha
Num abismo
Na primeira vez, na tua primeira vez
Havia mel nos teus olhos e na tua boca
E os meus cresciam em ânsias
De te devorar
O teu vulto dourado era o Verão
Na minha cama
E possuímo-nos como se consumássemos
Um Solstício de Deuses
Há muito adormecidos
Na primeira vez, na tua vez primeira
Eu tacteava nos teus olhos
A entrega difícil
O teu ser amortalhado em preconceitos
Cimentados a rigor
Para servir matrimónios céleres, convenientes
E infectaste a minha bela liberdade
Com uma pestilência amarga
Desconhecida
Na primeira vez, na nossa primeira vez
Que já não era a vez primeira
Para nenhum de nós
Tu afagaste-me o cabelo
Contaste-me uma história
Depois do amor
Antes do adormecer
E eu reconheci em ti
O porto de abrigo sonhado
Nas minhas tempestades medonhas
E sucumbi à paz
Ana Wiesenberger (in Erotismus, Impulsos e Apelos)
Imagem - Lauri Blank