Quando os gritos morrem na garganta Sob o estrangulamento do que deve ser Do que não pode ser
Quando as emoções são fumadas Em cigarros de dor Reduzidas a cinza nos cinzeiros Ao cheiro baço que se infiltra Em todos os cantos da casa
Quando os diálogos são iguais Em todos os dias Às mesmas horas As palavras são meros semáforos Para concretizar acções vazias Por entre paredes derrotas Na sua condição de lar
Quando sentes frio E o barómetro marca uma temperatura Amena
Quando as vozes na tua cabeça São a agonia do silêncio em redor
Quando te desligas à noite No abraço de um composto químico
Quando despertas sem vontade E o café é lento a dar-te corda ao corpo
Quando encetas uma data Com os gestos, já gastos na anterior E nem sabes, porque o fazes
Os Cavalos a Correr As meninas a Aprender Cabra-cega de sonhos Bonecas mutiladas Roupas sujas Sapatos gastos Dos embates em pedras Insuspeitáveis Fitas do cabelo desbotadas Das horas em que as crenças Foram fiadas Do vão da escadas Onde príncipes autistas Foram aguardados Da luz alegre do candeeiro Sobre a cama infantil Que sem darmos por isso Se fundiu
Os Cavalos a Correr As Meninas a Aprender Qual será a mais bonita Que se irá esconder
Patamares de estupefacientes Rostos impávidos de vazio Mãos pardas de tempo Carrinhos de rolamentos desfeitos Em acidentes absurdos Na calçada da vida
Os Cavalos a Correr As Meninas a Aprender Qual será a mais néscia Para o monstro comer
Pénis-espadas Gravatas-nó de forca Casas de bonecas abortadas Na escuridão dos pensamentos
Os Cavalos a Correr As Meninas a Aprender Torres invisíveis Sangue, Sémen Nascimento, morte Tranquilidade com vista Para lápides limpas Promontórios de fins apetecidos Á sombra-mãe das árvores