A Chuva Copiosa Bate Na Minha Janela

A chuva copiosa bate na minha janela
E desata deste lado da vidraça
Uma explosão de desejos
Surgem piqueniques de livros
Saltam as tampas das caixas dos bombons
O radio assalta-me com um trecho da Flauta Mágica
E a gravura a lápis de cor de Kokoschka
Liberta os cantores imprevistos na minha sala
Foi-se a vontade de trabalhar
Subiu no ar uma fragrância hilariante
Que anima em mim resquícios de Alice à hora do chá
Na deliciosa companhia do Coelho e do Chapeleiro Louco
E depois ela pára subitamente
Sai da minha cabeça para ficar só lá fora e ser chuva trivial
E eu volto à quietude do meu espaço com olhos de Dorothy
De regresso ao Kansas
A tentar convencer-me que a magia está dentro de nós
E podemos sempre procurar o caminho para Oz
Quando sentirmos a pequenez sufocante do nosso quintal
Vedar a nossa alegria de sermos pássaros coloridos
Ana Wiesenberger
27-05-2014
Imagem - Oskar Kokoschka