As Pessoas Sós Passam O Tempo
As pessoas sós passam o tempo
A deslizarem interminavelmente
Pelos corredores dos seus pensamentos
Construídos na ausência, na exclusão
Dos ecos das outras vozes
Que talvez desejassem perto, às vezes
Arrastam cada detalhe com cuidado
Como se pisassem vidros finos
E cada novo trilho é sempre a procura
Do indefinível na trivialidade da aparência
Dos factos quotidianos
Erram os olhos numa distância íntima
Entre sombras e prenúncios de formas
Que deslindam com vagar
Como se caminhassem à beira-mar
Numa demanda de conchas pequeninas
Suspensas numa filigrana de espuma breve
E quando lhes acontece estar entre os outros
Desatam esgares em vez de sorrisos
Desajeitadas, distraídas dos gestos convencionais
Mal articuladas em frases soltas
Num trapézio de expectativas vãs
De se verem compreendidas
E depois regressam ao seu espaço
Calçam os seus passos inseguros de exterior
Com as pantufas de feltro velho dos seus sonhos
E aninham-se na poltrona puída de uma saudade
Singular a tecer fios novos para a sua teia
Com a consciência triste de ser aranha e mosca
Em simultâneo
Num conluio de estranheza
Ana Wiesenberger
01-06-2014
Imagem - Henri Toulouse Latrec