De Costas Voltadas Para A Vida
De costas voltadas para vida
Passamos os dias entre ninharias prementes
E mal-entendidos que criamos
No nosso afã de fazermos de conta
Que somos importantes
E ignoramos o peso das horas
Que não vivemos
Para ver, compreender, crescer
Até que tudo nos parece sórdido, pardacento
Ignóbil e fútil
Quando nos lembramos de agarrar
O fio dos dias
É em arranques inconsequentes
Numa vontade infelizmente intermitente
De sermos singulares e verticais
E o tempo desliza
Os anos passam sem acenarem
E quando damos por nós
Já avistamos o cais derradeiro
E descobrimos que não fomos
Não fizemos
Não deixámos nada a assinalar a nossa presença
Num território que por décadas
Nos foi dado ocupar
É urgente aprendermos a vestir convicções
Nos nossos gestos, nos nossos passos
Não desperdiçar a oportunidade de sermos voz
De sermos balada, sinfonia
Em vez de requiem adiado
Na flor das idades
Que julgámos viver
Ana Wiesenberger
22-03-2014
Imagem - Jiri Borski