Estou Cansada de Memórias
Estou cansada de memórias
De salas de espera arrumadas em cubos
Como aquários de grilos sibilantes
Já mandei calar o Watson e o Sherlock Holmes
Disse ao Eça que fosse govarinhar para longe
E ao Brecht que fizesse uma revolução
Eu estou fatigada de ecos dentro e em redor de mim
Já não encontro chaves à espera que eu lhes pegue
Já não distingo a Fada Boa da Má
E desisti de ir até Oz
Vou desintegrar-me em palavras vãs e audiências
A condizer
E fingir-me leda, completa, toda adaptada ao vazio
Das vozes que me estreitam pretensamente perto
E cada vez mais longe de mim
Vou exilar-me nas montanhas do sono e do sonho
Onde a beleza ainda acontece e eu não tenho frio
Nem fome de ser e estar
Onde os seres pequeninos são mestres e sábios
E sabem ouvir e ensinar
Onde não há espaço para mentiras ou inverdades
Onde a transparência das almas se entrelaça
Numa harmonia expansiva de um arco-íris sem par
E ninguém precisa de se justificar
Para existir
Ana Wiesenberger
03-04-2014
Imagem - Arthur Hughes