Gosto do Fantoche de Mim
Gosto do fantoche de mim
É tão perfeito, tão articulado
Tão abrangente
E tão apresentável, de oco que é
Que dá para levá-lo para a rua
Ao encontro dos outros
Enquanto fico confortavelmente quieta
Atrás das minhas lentes de míope
Rodeada por letras e ideias
Pensamentos, ansiedades
O indefinível, o inominável, o inenarrável
O impossível, talvez
E ele cumpre-me com um rigor
A que nunca me atreveria
Nos seus modos excessivos
Agarra a realidade das coisas
Ajeita-se ao momento, todo fadistão
Ri e diverte-se à minha custa
Quando sabe que galgou limites
E que eu vou ficar apreensiva
Mas, as mais das vezes
É ele que me projecta
Numa verdade absurda
Que também é minha
E que se esquiva
Nas esquinas dos esboços
Que construi
Para realizar os meus objectivos turvos
Enleados pela lentidão de um rolamento estranho
A galgar interioridades
Como quem se abriga num telhado exíguo
Para fugir à chuva
Ana Wiesenberger
06-04-2013
Imagem - Magritte