Há Alturas Em Que Temos de Parar de Ser
Há alturas em que temos de parar de ser
Para sentir
Arrumar o corpo num sítio, aquietá-lo
Imobilizá-lo e permitir que o olfacto
E a visão suturem o vazio instalado
Suspender a inquietude da afirmação do ego
Atar a leveza da borboleta a uma pedra
E esperar pela profundidade do musgo
Dos nossos pensamentos mais íntimos
Sempre ocultos nos passos desaustinados
De um quotidiano febril em que se faz
O que tem de ser feito
Em que se olvida o querer
A voz subterrânea cada dia mais amordaçada
Sufocada pela realidade invasiva
A anular o que há de singular em nós
De tantas pontes construirmos
Para chegarmos aos outros
Esquecemo-nos da necessidade de olharmos
Para dentro e lermos a nossa verdade
Que pode não ser admirável, qual obra de arte
Mas é a nossa raiz, a nossa marca
Que nos distingue dos outros
A nossa respiração
Ana Wiesenberger
27-08-2014
Imagem - Joseph-Désiré Court