O Pássaro
O pássaro
A quem se jura amar
Por lhe proporcionar uma gaiola imensa
Também testa com a dor das suas asas cortadas
Os limites da sua pretensa liberdade
Canta. Não canta
Come. Não come
Inquieta-se como se o gato
Que não vê, já o tivesse devorado
Como se habitasse o interior desse gato medonho
Que o engoliu inteiro
E não lhe deu o tempo necessário
Para perceber que estava morto
O pássaro
Muda de poleiro
Para cima, para baixo
Pára. Escuta o silêncio
Será silêncio ou um rumorejar de algo
Que não conhece
Talvez as batidas apressadas do seu coração
Que afinal não morreu
Que afinal ainda amanhece transparências húmidas
Nas árvores que nunca viu
Nem sentiu
Ou serão remoinhos de sonhos emprestados
Que alguém depositou na sua gaiola amortalhada
E esquecida
Como uma folha de Outono
Abandonada num trilho distante
Do parque ameno
Onde as famílias fazem que conversam
E julgam que são felizes
Ana Wiesenberger
26-05-2014
Imagem - Jacek Yerka