O Vazio Prolonga As Horas

O vazio prolonga as horas
Estica os minutos em não-ser
Não-estar, não-ver, não-sentir
Se ao menos, ao acender uma vela
Comunicasse a vontade de luz
Orientação numa escuridão medonha
Que me atormenta
Incompreensível para um ser da noite
O que paira sobre mim é a dor
Os dentes aguçados do que não quero
Assumir ou compreender
Sempre quis inventar caminhos
Sempre fiz trilhos, vias abertas
E agora pareço um morcego embriagado
De estranheza
A embater nas esquinas dos muros
Esquecido de um radar ancestral
Que lhe daria a paz dos percursos
Conhecidos, apetecidos
Amanhã permanecerá ainda
O grito contido, estrangulado
Desabituado de habitar a garganta
Ana Wiesenberger
19-08-2014
Imagem - Arthur Rackham