Passei do Rigoletto a Cármen
Passei do Rigoletto a Cármen
Sem que a Bela-Adormecida em mim
Despertasse
Um aceno de cisnes
Um lago convidativo aqui e ali
E depois, novamente o pântano
O corvo a apoderar-se da alma
A convicção profunda de ser pedra
Estátua de um passado desconhecido
Largada por entre a gente
O amor guardava-o em mim
Em arcos de palavras
Léxicos afectos a várias línguas
Sonoridades belas, sedutoras
Que me preenchiam os dias
E no entanto, procurava sentir mais
Mas a proximidade dos outros
Era imperfeita e mesmo transtornada
Pelos leques das letras impressas
Permanentemente presas nos meus olhos
Que vergavam despedidas
Ao conhecerem a voz dos meus lábios
E depois, tu vieste e compreendeste
Que eu só podia, só sabia ser assim
Miríades de fogo e melancolia
Inquietação e fuga constante
Para as pradarias das páginas
Onde realmente vivia
Ana Wiesenberger
17-04-2015
Imagem – Edward John Poynter