Setembro
Setembro dos ocres misteriosos
A surpreenderem-nos pelos caminhos
Por entre o calor do sol
E o sal do mar que apetece
Agora mais do que nunca
Porque sentimos a ânsia de prender o Verão
Não permitir que ele parta
E leve consigo as horas despreocupadas
Que vivemos
Os risos das crianças, os olhares cúmplices
Dos apaixonados libertos do jugo do trabalho
Para amar
Setembro das minhas memórias doces
De juventude
Mãos enlaçadas em passeios inocentes ao pôr-do-sol
A desenovelar sonhos por cumprir
Destinos difusos ainda
A ganhar contornos nas nossas vozes de esperança
Nas nossas expectativas articuladas
Na promessa que os adultos diziam ver em nós
Ou não
Setembro do amor, da paixão natural
Que tivemos de encerrar numa caixa de areia
Por sermos néscios e acreditarmos
Que os outros tinham razão
Não era para cumprir
E afinal, a vida reencontrou-nos em amizade
De cicatrizes guardadas e esquecidas
E eu penso nas horas pardas da minha meia-idade
Que até estive com o Príncipe Encantado
Mas não fui capaz de vestir a minha rebeldia de egoísmo
E fiz-lhe ver, que eu não era a sua destinada Princesa
Na despedida trocámos prendas
Tirei o meu colar de contas violeta do pescoço
Ele despiu a camisola verde como a copa das árvores
Que ambos sabíamos respirar
Abraçámo-nos com olhos vítreos de dor
E voz quebrada
Em mim sempre o imperativo do verbo a ceifar o meu querer
O meu desejo
É melhor assim!
Ana Wiesenberger (02-09-2014)
Imagem - Gustav Klimt