Esquilo, esquilinho Centelha penugenta de vida Leva-me contigo e ensina-me a leveza, a alegria De quem só acata a autoridade da mãe natureza Que dita a chuva, o frio e o calor em cada dia
Tu não conheces os minutos pardos O peso das horas sem sentido Os passos da solidão, do desalento E a escuridão só te convida Ao recolhimento útil à tua energia
Esquilo, esquilinho Volta também amanhã à minha morada Acena-me com a tua liberdade Acolhe na tua ventura a minha alma pequenina
Aboli a Páscoa Despedi o Natal Dos outros feriados religiosos Nunca soube nada Fico-me pelo reflexo deles Gosto de Carnaval
As máscaras cativam-me As dessa altura e as outras Que tantos vestem a rigor Anos inteiros com ou sem pausas Para servirem propósitos Assumirem identidades perfeitas Colarem-se ao perfil de um papel Que de tão representado Já é quase mais real Do que o pouco que neles morava
Aboli o pequeno-almoço e o almoço Como ao sabor do apetite O corpo não precisa de saber as horas Para apetecer esta ou aquela refeição Todavia, dou ao jantar requintes de banquete Diverte-me preparar a mesa com rigor Estudar a distância entre o queijo, a manteiga E as azeitonas Quedar os olhos sonhadores nos rótulos Da minha pretensa garrafeira Num processo de eleição responsável
Hoje é o início do Outono no calendário As folhas há muito que cobrem o solo Em castanhos e verdes esmaecidos Se eu fosse esquilo, começaria agora A armazenar nozes e avelãs na minha casinha