Quando estou em Portugal
Quando estou em Portugal, na grande cidade litoral
Acontecem-me remoinhos de saudade inesperados
Faltam-me os bosques da Alemanha
O silêncio dos caminhos
O sol português abraça-me e sustenta-me em pilares de luz
O mar embala-me com a sua ternura ancestral inesquecível
Porém, não sacia a minha sede de verde e mistério
Onde as ondas da imaginação crescem em histórias
A natureza humana condena-nos à insatisfação
Desaprendemos o nosso lado animal
Não sabemos saborear o presente
Se está frio, não se pode sair de casa
Se está calor, não se consegue respirar
Eu observo e admiro a graça com que os meus cães
Se entregam aos momentos do dia
Quando passeiam, apreciam a erva fresca, o solo gelado
Coberto de neve ou enlameado
Quando regressam ao lar, e se ninguém com eles brincar
Aninham-se junto a nós e desfrutam da nossa companhia
Mas os humanos nem nos afectos se satisfazem
Se estão com A, querem estar com B
Se estão sós, pesa-lhes a ausência
Se estão acompanhados, depressa se enfastiam
E assim, nunca estão onde querem estar
Nunca vivem como desejariam viver
Por isso, a morte nos deixa a todos de olhos abertos
Surpreendidos pela efemeridade da nossa existência
E quem sabe, ainda tenhamos um segundo de reflexão
Para lamentarmos o desperdício da dádiva da vida
Ana Wiesenberger
09-01-2017
Imagem – Amadeo Souza Cardoso