Quando a hora nos transforma num morcego velho
Quando a hora nos transforma num morcego velho
Demasiado débil para abraçar a noite
Com as suas asas de veludo
Deveríamos confiar o rumo dos nossos pensamentos
Ao rebanho imenso das sensações que o dia nos oferece
O conforto quente do café a entrar em nós de manhã
Um raio de sol que nos faz piscar os olhos
A intimidade do sorriso sincero dos amigos
Quando nos encontramos por acaso
A macieza dos lençóis a envolver o corpo
Numa embriaguez que nos conduz ao sonho
A frescura da água a acordar nos nossos rostos
Uma promessa de renovação numa nova jornada
O peso e o tilintar das chaves no bolso ou na mala
Que sabe à segurança de quem tem um abrigo
Uma parte do mundo que é só nossa
E escolhemos partilhar ou não com os demais
Quando a hora nos transforma num morcego velho
Deveríamos transferir o nosso espírito
Para o baloiço da infância que nos levava para alto
Muito alto
E nos fazia sentir a leveza de sermos bolas de sabão coloridas
Sopradas por um Deus de amor
Ana Wiesenberger
08-02-2016
Imagem – Van Gogh