Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

querotrazerapoesiaparaarua

querotrazerapoesiaparaarua

O Tempo dentro de nós é um fluir constante

Magritte 1

O tempo dentro de nós é um fluir constante

Onde o passado vive de mãos dadas com o devir

E se não logra furar o filtro da memória consentida

Assalta-nos em sonhos transpondo o muro frágil que erguemos

Para nos defendermos da dor de sentir o que foi e já não será

 

O sono levou-me a noite passada aos corredores da escola

O mundo de tinta, papel e crescimento onde eu era feliz

Fiz revisões dos verbos no passado numa turma

Fui buscar os testes para a seguinte à reprografia

O passo sempre apressado, os minutos sempre calculados

A vontade convicta a tecer malabarismos para afastar os escolhos

 

Noutra esquina onírica deambulei pelas ruas a gritar: Becky! Becky!

E a alegria de vê-la, de encontrá-la, depois de se ter perdido de mim

Foi tão forte que me devolveu à realidade e deixou na chávena de café

O travo amargo de uma saudade irremediável

 

Ana Wiesenberger

01-08-2018

 

Imagem – René Magritte

Abro os olhos

The_Icebergs_(Frederic_Edwin_Church)

 

Abro os olhos

Depois a janela

Sento-me na cama

Cigarro entre os dedos

Caneca de café na outra mão

E o trinar dos pássaros

Misturado com o ronco dos carros

Entra pelo quarto

 

 

Não quero perder os farrapos do sonho

Antes de os encaixar

De lhes dar sentido na moldura da realidade

Porque será assim?

Porque é quase sempre assim

Somos humanos, logo precisamos de descodificar as coisas

Para afastar o medo que o desconhecido nos causa

 

 

Não há nada a temer

A não ser as palavras

Li isto em qualquer lado

E ficou encravado em mim

Como um punhal

 

 

O puzzle por fazer volta a zumbir à minha volta

Que peças tão estranhas

E contudo, tão simples

Talvez, não o queira ordenar como um todo

Assumir como uma premonição

Parece-me, que prefiro afastá-lo

Com um gesto automático

De quem se defende de um ramo

Que nos pode ferir o rosto

Ao caminharmos por uma vereda no campo

 

 

As mesas redondas compostas com as crianças

O círculo da vida

Os desenhos infantis sempre renovados

Que a professora guarda no armário da sala

Porque o tempo é célere

E os petizes em breve deixam de o ser

Para dar lugar a outros

 

 

Pergunto à minha mãe quando e como morri

Ela não se lembra

Surpreende-me, que ela não se recorde

A lápide do cemitério surge num instante relâmpago

Para logo desaparecer, como se brincasse às escondidas

Só consegui ver o início do meu nome

 

 

Entretanto tu sorris

Encostas a tua cabeça à minha

Dizes-te cansado

E eu corroboro o teu cansaço com o meu

Mas não deixamos de sorrir cúmplices

No teu olhar a vivacidade saudável

De quando éramos jovens

Antes do teu cancro

Antes da minha doença absurda

 

 

Há um quiosque onde compro

Queijo fresco muito branco

E o homem que me atende

Fala sobre os delírios de viver

Naquela cidade da Alemanha

Contraponho, que sim

Mas não durante muito tempo

 

 

A conta é avultada

Pago em moedas e dois isqueiros

Um por ti; outro por mim, já se vê

Ambos fizemos o percurso

Para o abraço do urso branco

Em anos de fumo e fantasia

 

 

Não quero, que te despeças de mim

Não quero, despedir-me de ti

Fiquemos, mais um pouco

Por aqui

 

 

Ana Wiesenberger

13-03-2017

 

Imagem – Frederic Edwin Church

 

 

 

 

Neva

DSC00463

Neva
O branco imenso reconcilia-me com a minha verdade
Roça-me a consciência com os fantasmas dos meus actos
A predisposição inata, fatal para a queda
O abismo singular do iceberg que se afasta rumo ao infinito
Ao sonho, à morte

 

Há uma comunhão intrínseca nisto tudo
É preciso, que eu adormeça o ser social
Para poder ser fecundada pelos ecos
Que chegam até mim pelas páginas
Pelas memórias decantadas pelo tempo
E aguardam no barro dos dias
Pela forma que a minha mão lhes vai dar
Vergada ao desconforto, ao frio das árvores
A que o solstício impiedoso levou as folhas

 

Ana Wiesenberger
20-01-2016

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Corredores, 2015

Portugal, Meu Amor, 2014

Idades, 2012

Dias Incompletos, 2011

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D